Estamos em 1951, na estação de comboios de Paddington, em Londres. A então princesa Isabel e o marido, Filipe, duque de Edimburgo, regressavam de uma viagem ao Canadá, que os tinha afastado de casa por mais de um mês, e o filho Carlos aguardava-os ali ansioso. Na inocência dos seus três anos, o rapaz correu para eles, mas da mãe apenas recebeu um aperto de mão com a luva posta e um beijo fugidio, e do pai uma rápida festa na cabeça. A jornalista Ana Paula Homem, editora da revista Caras, e que escreve há quase três décadas sobre assuntos da realeza, além de lembrar o episódio de Paddington acrescenta-lhe a recordação mais longínqua que Carlos tem da mãe, pela voz do próprio: “A mamã era uma figura remota e glamorosa, que vinha dar-nos um beijo de boas-noites a cheirar a lavanda e vestida para o jantar.”
Serve esta introdução para dizer que Carlos III, de 74 anos, que no próximo sábado, 6, será coroado monarca do Reino Unido e dos 14 Estados soberanos e independentes, chamados Reinos da Comunidade de Nações, “foi um pobre menino rico”, afirma Ana Paula Homem. O gélido episódio de Paddington também revela que o então pequeno príncipe começou a ser “quase amestrado” para o “muito exigente papel que o esperava no futuro, e que é agora o presente”, ainda antes de a mãe se tornar rainha, nota aquela jornalista. Isso só aconteceu a 6 de fevereiro do ano seguinte, 1952, quando o pai, o rei Jorge VI, morreu, aos 56 anos, e ela subiu ao trono como Isabel II, com apenas 25 anos.