A CP – Comboios de Portugal anunciou, esta quinta-feira, em comunicado, que adjudicou à empresa portuguesa Newrail o serviço de cafetaria e bar dos comboios Alfa Pendular e Intercidades, que se encontra interrompido há quase dois meses, depois da quebra de contrato do anterior concessionário, uma empresa detida por um funcionário da própria companhia ferroviária – que deixou os salários de fevereiro e março por pagar a cerca de 130 trabalhadores (que também não devem receber abril).
“A CP esteve sempre empenhada na solução desta situação, agindo de acordo com a lei e tomando todas as medidas possíveis. Importa esclarecer que CP é também lesada em todo este longo processo, pois sempre garantiu a pontualidade nos pagamentos de um serviço que não foi adequadamente prestado aos seus passageiros, causando transtorno aos seus clientes e prejuízos financeiros à CP”, refere a nota.
Recorde-se que, em março de 2021, a CP – Comboios de Portugal decidiu denunciar o contrato com a então fornecedora do serviço de cafetaria e bar dos comboios Alfa Pendular e Intercidades – a LSG – Lufthansa Service Holding AG, maior fornecedora mundial de catering, que pertence ao grupo Lufthansa, e tem parte do seu capital detido pela suíça Gategroup Holding –, por desacertos entre as partes, na sequência das interrupções na pandemia. Lançado um novo concurso público internacional, a transportadora entregou o serviço a uma entidade criada e detida pelo empresário José Alegria que é, em simultâneo, funcionário da própria CP. Porém, decorridos apenas 19 meses, a relação colapsou.
A empresa Apeadeiro 2020, de Alegria, acabaria por comunicar, no dia 28 de fevereiro, que não tinha condições para continuar a pagar os salários aos seus 130 trabalhadores. Ao mesmo tempo, o empresário apresentou uma baixa médica na CP, e desapareceu sem deixar rasto nem mais explicações. Em desespero, os funcionários declararam greve por tempo indeterminado – que ainda se mantém. De um dia para o outro, os cafés e bares dos comboios tiveram de fechar.
Mas há mais: entre agosto de 2021 e fevereiro de 2023, a Apeadeiro 2020 terá recebido perto de €1,8 milhões da CP (ao ritmo de cerca de €95 mil/mês), no âmbito do contrato em vigor. Apesar deste montante e das receitas do negócio, que terão disparado em 2022 (superando, até, níveis pré-Covid), a empresa acumulou uma dívida milionária a rondar os €900 mil às Finanças, Segurança Social e fornecedores.
Privada do serviço contratado, sem respostas positivas de José Alegria e no meio de ruidosos protestos dos trabalhadores – que se têm reunido em manifestações e vigílias à porta das principais estações de Lisboa e Porto –, a CP avançou para a rescisão do contrato e lançou novo concurso extraordinário, que agora culminou com a adjudicação hoje anunciada.
Em comunicado, a companhia ferroviária indica que “espera normalizar a situação nos próximos dias”, agradecendo “a compreensão de todos os passageiros e parceiros durante este período”, o que se supõe ser uma mensagem dirigida aos trabalhadores. A CP termina reafirmando o “compromisso em oferecer serviços de qualidade, assegurando o bem-estar e a satisfação de seus clientes”.