Um estudo publicado na revista científica The Astrophysical Journal Letters, dá conta de um buraco negro “fugitivo” que deixou um rasto com 200 mil anos-luz, o dobro do diâmetro da Via Láctea, composto de jovens e brilhantes estrelas. Esta estrutura cósmica está a cerca de 7,6 mil milhões de anos-luz da Terra.
“Pensamos estar a ver um rasto atrás do buraco negro onde o gás arrefece e pode formar estrelas. Portanto, observamos uma formação estelar atrás do buraco negro. Tal como a esteira de um navio, estamos a ver a esteira do buraco negro”, ilustrou Pieter van Dokkum, investigador principal do estudo, em comunicado.
Embora ainda não seja claro, os investigadores estimam que há cerca de 50 milhões de anos tenha ocorrido a fusão entre duas galáxias e que os buracos negros no seu centro se tenham combinado. A supermassa destes pode ter gerado um terceiro buraco negro menor e mais recente, com cerca de 39 milhões de anos.
Tal qual um bilhar cósmico, a introdução de um novo elemento pode ter gerado instabilidade no centro da galáxia tendo o terceiro elemento sido expulso do sistema, daí a alcunha de “fugitivo”. O impulso provocado pelo desequilíbrio concedeu-lhe velocidade capaz de gerar um rasto de estrelas azuis, que se estende até à galáxia de origem, afirmaram os astrónomos.
O buraco negro encontra-se numa das extremidades do rasto, que se estende até à sua galáxia-mãe. Há uma concentração de oxigénio ionizado notavelmente brilhante que os investigadores acreditam ser o gás a ser aquecido e revolvido pelo movimento do buraco negro. Outra hipótese pode ser radiação emitida pelo disco de acreção, a estrutura formada pela rotação de matéria aquecida em torno do horizonte de eventos do buraco negro.
Por ser um evento tão singular, van Dokkum e a sua equipa procederam a uma espectroscopia com os Observatórios Keck no Havai, Estados Unidos. O investigador descreve o rasto das estrelas como “bastante espantoso, muito, muito brilhante e muito invulgar”.
A incrível visão foi identificada pelo Telescópio Espacial Hubble, num feliz acidente. “Isto é pura serendipidade”, confessa o astrónomo. “Estava apenas a analisar a imagem do Hubble, e depois reparei que tínhamos um pequeno risco. Pensei imediatamente, ‘Oh, um raio cósmico a atingir o detetor’. Quando eliminámos os raios cósmicos, percebemos que ainda lá estava”.
Se confirmada com mais observações, a descoberta prova uma teoria da década de 1970 que prevê a existência de tais fenómenos. “Há muito tempo que sabemos que existem buracos negros supermassivos e há cerca de 50 anos que se previa que por vezes poderiam ser expulsos das galáxias”, explica van Dokkum.
Este estudo concedeu uma faceta criadora que normalmente não é atribuída aos buracos negros, sempre vistos como devoradores de matéria, tão potentes que nem a luz lhes consegue escapar.