A empresa australiana Vow apresentou na terça-feira, em Amesterdão, nos Países Baixos, uma almôndega de mamute-lanoso com 400 gramas.
A “iguaria” foi produzida através de técnicas de cultivo de carne em laboratório, um processo que começa normalmente com a colheita de células retiradas de um animal vivo.
Restos de mamute, com pelo e tecidos ainda intactos, são regularmente encontrados no permafrost do Ártico, o que permitiu aos cientistas sequenciar o genoma destes gigantes extintos da Idade do Gelo.
Neste caso, os investigadores que trabalham no projeto não tiveram acesso a uma amostra de tecido de mamute sobre o qual pudessem basear a sua pesquisa e criação. Em vez disso, consultaram sequências do ADN de mamute constante numa base de dados disponível ao público e inseriram os genes numa célula muscular de ovelha, explicou o chefe científico da Vow, James Ryall, no evento de apresentação da almôndega.
“Queríamos que as pessoas ficassem entusiasmadas sobre o futuro dos alimentos, porque há coisas que são únicas e melhores do que as carnes que estamos a comer agora. E pensámos que o mamute seria uma abordagem que empolgasse as pessoas”, clarificou o fundador da startup, Tim Noakesmith, à Associated Press. “Contudo, o mamute lanoso é um símbolo de perda, sabemos agora que ele morreu devido às alterações climáticas. E, assim, o que queríamos fazer era ver se poderíamos criar algo que fosse um símbolo de um futuro empolgante, que não fosse apenas melhor para nós, mas também melhor para o planeta”, acrescentou Noakesmith.
Já em 2018, outra empresa utilizara o ADN de um animal extinto. A Geltor criou gomas a partir de sequências de ADN de mastodonte, outro animal semelhante aos mamutes.
Todavia, a carne de mamute ainda está muito longe de poder ser consumida por humanos. “Não vemos esta proteína há milhares de anos. Por isso, não temos ideia de como o nosso sistema imunitário reagiria se a comêssemos”, explicou Ernst Wolvetang, do Instituto Australiano de Bioengenharia da Universidade de Queensland, com quem a Vow colaborou para a produção da carne cultivada.
A startup australiana já investigou o potencial de mais de 50 espécies para produzir carne cultivada, incluindo alpaca, búfalo, crocodilo, canguru, pavões e diferentes tipos de peixes.
A produção pecuária em grande escala, particularmente de vaca e galinha, provoca danos graves no ambiente, com muitos estudos científicos a mostrarem que o consumo de carne nos níveis em que está atualmente é insustentável.A produção intensiva de carne é responsável por um terço das emissões de gases com efeito de estufa, como constata um estudo publicado na revista científica Nature.
O World Economic Forum estimava, em 2019, que 50 mil milhões de galinhas eram abatidas apenas pela sua carne, uma contagem que exclui o abate de frangos e de galinhas poedeiras.