Uma sucessão de esquemas contabilísticos, aumentos de capital e criação de empresas terá permitido a Jacques Rodrigues – dono do Grupo Impala, detido, esta quinta-feira, pela Polícia Judiciária – delapidar património das suas sociedades, colocando-o a salvo dos credores, mas na sua esfera pessoal. De acordo com informações recolhidas pela VISÃO, a investigação da Operação “Última Edição” estima que o histórico patrão dos media terá desviado quase 70 milhões dos quase 100 milhões de euros em dívidas que deixou por pagar.
Ao que a VISÃO apurou, nos últimos meses, a Polícia Judiciária tem seguido de perto todas as movimentações de Jacques Rodrigues e de outros suspeitos, uma vez que o Ministério Público de Sintra suspeita que o empresário poderia estar a preparar-se para sair do País. Um dos primeiros sinais de que tal poderia acontecer foi o facto de Jacques Rodrigues ter colocado a sua moradia (onde também decorreram buscas) no Lote 49, na Quinta da Marinha, em Cascais, à venda. Preço: 7,5 milhões. Porém, com a sua detenção, o MP de Sintra prepara-se para pedir o arresto do imóvel, assim como do seu recheio, como forma de garantir o ressarcimento dos credores.
As suspeitas de corrupção presentes na investigação dizem respeito a dois administradores judiciais que, nos últimos anos, geriram os processos de falência de empresas de Jacques Rodrigues. Ambos são suspeitos de receber subornos para, de alguma forma, favorecerem os interesses do empresário. Num desses processos de insolvência, um administrador judicial – que está obrigado ao dever de isenção e distanciamento perante as partes – até emitiu uma procuração a favor de uma advogada, Isabel Candeias, que tem representado Jacques Rodrigues, seja em comunicações ao Parlamento, seja em Direitos de Resposta enviados a órgãos de comunicação social.
Em comunicado, a Polícia Judiciária adiantou estar a investigar “um plano criminoso traçado para, entre o mais, ocultar a dissipação de património, através da adulteração de elementos contabilísticos de diversas empresas, em claro prejuízo de diversos credores, os trabalhadores, fornecedores e o Estado, estando reconhecidos créditos num valor total de cerca” de 100 milhões de euros.
“Acresce a forte indiciação do desvio de valores com origem nas estruturas societárias, para fora do território nacional, num montante global que ascenderá a largas dezenas de milhares de euros”, continuou a PJ no comunicado.
As buscas na sede da Impala, em Sintra, estão a ser acompanhadas presencialmente pelo Sindicato dos Jornalistas. Os detidos pela Unidade Nacional Contra a Corrupção (UNCC) serão presentes a um juiz de instrução do Tribunal de Sintra.