Renata Cambra exige uma indemnização “não inferior 10 mil euros” a Mário Machado, no processo em que o conhecido neonazi é acusado pelo Ministério Público (MP) de discriminação e incitamento ao ódio e à violência na sequência de insultos publicados nas redes sociais (ver imagem), em que apelava à violência sexual contra mulheres de esquerda, em particular a porta-voz do Movimento Alternativa Socialista (MAS).
António Garcia Pereira, advogado de Renata Cambra, entregou, esta quinta-feira, a acusação particular com pedido de indemnização cível. E, numa declaração escrita, a líder do MAS explicou a sua decisão de avançar com este processo, depois de ter percebido que se tornara “um alvo” da extrema-direita. “A minha voz tinha-me tornado num alvo e que o meu corpo estava a ser colocado a prémio como castigo pelo atrevimento de ser mulher, militante e porta-voz de um partido de esquerda declaradamente antifascista”, lê-se na nota.
“Apesar do medo, decidi na altura avançar com uma queixa-crime perante o MO, com a mesma convicção com que decido hoje deduzir acusação particular, acompanhada por um pedido de indemnização cível: por mim, pela minha dignidade e segurança enquanto mulher, mas também pelas minhas camaradas do MAS e por todas as mulheres de esquerda, com e sem partido, que têm a coragem de lutar”, acrescenta.
Renata Cambra, que, à VISÃO, admite ter alterado rotinas nos dias seguintes às ameaças de que foi alvo, refere ainda que está neste processo “por saber que é urgente combater a normalização do discurso de ódio e de descriminação da extrema-direita, cuja ascensão representa um perigo real para todas nós” e por se “recusar a aceitar que tenhamos que viver com medo e por acreditar na importância de nunca desistirmos de lhes mostrar que não passarão, que o lugar da mulher é onde ela quiser e que a luta pela emancipação e igualdade de género veio para ganhar”.
Recorde-se que, no dia 17 de fevereiro de 2022, Mário Machado – que tinha regressado, há apenas um mês, às redes sociais – defendeu, no Twitter, “a prostituição forçada das gajas do Bloco”. Em resposta, o utilizador Ricardo Pais acrescentou “[e] as do PCP, MRPP, MAS e PS”. Machado continuou: “Tudo tipo arrastão”. Por fim, Pais concluiu dizendo que “a Renata Cambra terá tratamento vip“. “Servirão para motivar as tropas, na reconquista”, acrescentou. Este homem também é acusado pelos mesmos crimes.
Renata Cambra denunciou, na altura, a conversa, partilhando-a nas suas redes sociais, e anunciou que iria “apresentar uma queixa-crime” contra Machado e Pais, anunciando ainda que teria como advogado Garcia Pereira, antigo líder do PCTP/MRPP. A conta no Twitter de Machado chegou a estar suspensa na sequência desta publicação.
A acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa refere que os arguidos utilizaram as redes sociais para “‘apodar de prostitutas todas as mulheres’ dos partidos em causa, em especial Renata Cambra, ofendendo-as não só na qualidade de militantes mas também por pertencerem ao sexo feminino”.
Indemnização para MAS e associações. Figuras femininas testemunham
Caso ganhe o processo, Renata Cambra comprometeu-se a “distribuir o valor da indemnização cível entre três organizações” que, segundo a opinião da própria, “cumprem um papel fundamental” na luta contra o crescimento da extrema-direita: o MAS, partido político que lidera, a Rede 8 de Março e uma outra associação de apoio a pessoas trans imigrantes, que, por razões de segurança, prefere, para já, não nomear.
Entretanto, a diplomata Ana Gomes, a deputada Isabel Moreira e a ativista Guadalupe Amaro aceitaram ser testemunhas de Renata Cambra neste processo. Este é, aliás, o segundo caso que opõe Ana Gomes e Mário Machado, uma vez que a ex-candidata presidencial também será testemunhado de Mamadou Ba, no caso em que o ativista atirracista se senta no banco dos réus.