Quando se compra um eletrodoméstico, por exemplo, já não se estranha a etiqueta energética que o acompanha, com as letras de A a G a ajudarem a decifrar o seu consumo de energia, a sua eficiência e eventual malefício para o bolso do consumidor e para o meio ambiente. E, se, em breve, uma espécie de selo ambiental lhe surgisse na hora de comer um hambúrguer numa qualquer cadeia de fast food?
A escolha seria diferente se ao desembrulhar um daqueles hambúrgueres gigantes, com queijo a derreter por todos os lados e uma boa dose extra de bacon, um selo ambiental classificasse a escolha como mais ou menos amiga do ambiente?
Na verdade, quanto mais informação for dada às pessoas sobre os ingredientes que comem, as suas origens e as vantagens e desvantagens do seu consumo, melhores e mais acertadas escolhas poderão ser feitas por todos.
Os sistemas de produção alimentar contribuem com cerca de um terço das emissões globais de gases com efeito de estufa, sobretudo devido à criação de vacas e outros animais. A produção de carne é responsável por 60% de todos os gases da indústria alimentar que geram aquecimento global. Um quilo de carne de vaca gera 70 quilos de emissões de gases com efeito de estufa, enquanto um quilo de trigo emite apenas 2,5 quilos, segundo um estudo publicado na revista científica Nature Food, em 2021.
Reduzir o consumo de carnes vermelhas é uma das medidas que mais pode contribuir para diminuir mais rapidamente as emissões de gases com efeito de estufa.
De forma a gerar mudanças no comportamento das pessoas na hora de fazerem escolhas do que vão comer, Julia Wolfson, professora associada da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg e outros colegas das universidades de Harvard e do Michigan, “inventaram” dois tipos de selos ambientais para usar nos menus de fast food.
O estudo centrou-se especificamente em fast food, por ser uma importante fonte de consumo de carne bovina nos EUA, onde mais de um terço dos americanos consome esse tipo de comida todos os dias.
Dos três menus criados fazia parte um hambúrguer sem qualquer selo, outro com uma etiqueta vermelha, indicando o “alto impacto ambiental” ao ingerir carne bovina, e um terceiro com um selo verde, símbolo do “baixo impacto ambiental” de comer frango, peixe e refeições vegetarianas.
Aos 5 049 participantes do estudo, todos adultos escolhidos de forma aleatória, foi-lhes pedido para observarem as etiquetas e depois selecionarem o que gostariam de pedir para o jantar. O resultado da investigação, publicado no final de 2022, na revista médica Jama Network Open, ajuda a perceber de que forma a informação vermelha ou verde interferiu na escolha.
O grupo de pessoas que evitou pedir carne de vaca olhou para os menus com o rótulo de “alto impacto ambiental”, fazendo com que 61% escolhesse a opção mais sustentável. Mais da metade dos participantes (54,4%) que viram os selos de “baixo impacto ambiental” fizeram uma escolha mais sustentável, e pouco menos da metade dos que não viram nenhuma etiqueta decidiram evitar a carne vermelha.
“A principal conclusão é que ambos os rótulos aumentaram efetivamente a proporção de participantes que encomendaram comida sustentável. Mas, o mais eficaz foi o rótulo de alto impacto ambiental no menu de carne vermelha”, explica Julia Wolfson ao site da Bloomberg.
Uma descoberta “consistente com pesquisas anteriores que mostram que as mensagens com estrutura negativa podem ser mais influentes do que as positivas”, acrescenta Lindsey Smith Taillie, epidemiologista nutricional da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA. Também os rótulos nas embalagens alertando sobre alimentos “ricos em açúcar” podem levar à redução do seu consumo.
Não restam dúvidas de que com mais informações a população poderia fazer melhores escolhas em termos de saúde e sustentabilidade. No entanto, continuam a ser necessárias mais pesquisas para acertar no selo ambiental mais eficaz. Por exemplo, analisar o historial das advertências nos maços de cigarros, que ao longo dos anos têm vindo a ser aprimoradas.
Este inquérito, por ter sido feito de forma hipotética e online, não pode ser considerado definitivo, mas mostra bem em que direção as pessoas poderão ir na hora de encomendar a sua próxima refeição, in loco, ao balcão de uma cadeia de fast food.
Para Julia Wolfson,“será muito importante ver, no futuro, se esses resultados e a magnitude desses impactos serão replicados em ambientes do mundo real, onde as pessoas estão a fazer escolhas reais, a gastar o seu dinheiro e a ter de comer os alimentos selecionados.”
É também importante sublinhar que nenhum dos menus do estudo era realmente saudável, independentemente do seu impacto ambiental, o que leva a outra questão: também os restaurantes de fast food precisam de mais incentivos para oferecerem escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis para o ambiente.