Em Portugal, nas últimas quatro décadas, entre 1980 e 2021, contabilizando os óbitos de todos os anos, separados pelos 12 meses, constatamos que os 41 meses de janeiro somam 475 799 falecimentos, enquanto os 41 meses de setembro estão no fim da lista, com 307 829 mortos. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados na Pordata, em segundo e terceiro lugar dos meses mais mortais ficam outros dois meses de inverno: dezembro com 428 286 e fevereiro com 407 718.
Nos Estados Unidos da América, o cenário repete-se com uma média de 251 699 pessoas mortas em janeiro de cada ano, entre 2010 e 2020, de acordo com o banco de dados Wonder dos Centros de Controlo e Prevenção de Doença (CDC) que rastreia como e quando as pessoas morrem. Em comparação, os meses de agosto (218 102) e dezembro (242 475) registam médias inferiores.
Uma outra investigação, feita pelo jornal The Washington Post, também com base nos dados do CDC, corrobora a mesma ideia, de que o mês de janeiro é o mais mortal do ano. Houve 40 mil a 60 mil mortes a mais em janeiro, do que em agosto ou em setembro, durante 15 anos, de 1999 a 2014.
Mas porque será o início de cada ano tão perigoso? Segundo a Organização Mundial da Saúde, a culpa é da doença cardíaca. Um estudo de 1999, publicado na revista Circulation, descobriu que as doenças cardíacas são mais fatais no inverno, especialmente em janeiro e fevereiro. O corpo ao perder mais calor, obriga o coração a trabalhar mais, criando um esforço extra nas pessoas que já sofrem de problemas cardíacos, informou a British Heart Foundation.
No entanto, isso não explica porque em lugares mais quentes, como a Califórnia e a Florida, nos EUA, também sofreram mais mortes em janeiro do que no resto do ano.
As doenças relacionadas com as altas temperaturas estão a aumentar devido às alterações climáticas. Crianças, pessoas mais velhas e imunodeprimidos são os mais vulneráveis ao clima quente e húmido. Apesar de o risco de insolação e de falência de órgãos aumentar durante o verão, os meses de inverno são mais mortais. A gripe e todos os outros vírus respiratórios não dão tréguas na estação fria.
Aliada à circulação em simultâneo de diversos vírus respiratórios está a exposição ao frio extremo e ao vento, a falta de aquecimento adequado em casa, com pessoas idosas a morarem sozinhas e com aquecedores de ambiente que podem levar a incêndios e intoxicação por monóxido de carbono.
A verdade é que o excesso de comida – com a ingestão de mais açúcar e gorduras, assim como de bebidas alcoólicas – durante toda a época natalícia e de Ano Novo, não ajuda em nada o coração a trabalhar sem esforço.