“O comboio automático para a inércia” foi o que, pelo menos nos últimos dez anos, Carlos Alexandre sempre se recusou a apanhar, mantendo-se como juiz de instrução no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC). No léxico criado e desenvolvido pelo magistrado – que incluiu outras expressões como o “profeta Daniel” (Daniel Proença de Carvalho) ou as “formalidades de embarque”, quando quer designar os procedimentos para a condução de um arguido à cadeia –, a metáfora indica o concurso de acesso ao Tribunal da Relação, onde os juízes desfrutam de uma vida mais tranquila, quando comparada com a da instrução criminal de grandes processos. A resistência ao embarque durou até esta quarta-feira, 12 de outubro, com a apresentação da candidatura a juiz-desembargador.
Os primeiros passos de Carlos Manuel Lopes Alexandre, 61 anos, como juiz de instrução criminal (JIC) foram dados em 2004 como auxiliar da então titular do TCIC, Fátima Mata-Mouros. Dois anos mais tarde, ficou efetivo no lugar, iniciando, assim, uma carreira que o colocou no centro das atenções da comunidade jurídica e do próprio País. A ficha do juiz no Conselho Superior da Magistratura (CSM) começou a ser escrita em 1987, ano em que fez o estágio e a que se seguiu o habitual périplo por pequenas comarcas, Felgueiras, Cascais, Vila Franca de Xira, Sintra, a chamada “tarimba”, isto é, anos a ganhar experiência e não, como atualmente, em que uma juíza com 29 anos, Ana Lacerda Assunção, vai ter de conduzir a instrução de um dos processos com suspeitas de corrupção ligadas à anterior gestão do Banco Espírito Santo, liderada por Ricardo Salgado.