Ao longo de décadas, à medida que as mulheres nos países ricos e desenvolvidos aumentavam a sua participação no mercado de trabalho, diminuía também a sua taxa de fertilidade. O nascimento de menos bebés costumava ser sinónimo de mais mulheres fora de casa, empregadas. Investir na carreira profissional, ao mesmo tempo que se tem de cuidar dos filhos, deixava pouco espaço para criar famílias grandes.
Mas, a situação parece estar a sofrer um revés. Uma nova pesquisa, publicada em abril deste ano, ajuda a explicar uma inversão dessa tendência nos países ricos: agora, taxas mais altas de participação feminina nas empresas estão associadas a mais bebés.
Em 1980, os países ricos com maior número de mulheres trabalhadoras tinham taxas de fecundidade mais baixas do que os países mais pobres com mais mulheres desempregadas.
Os modelos económicos tradicionais explicavam a situação. Os pais mais abonados gastavam mais dinheiro com os seus filhos e, por isso, queriam ter menos filhos, e as mães trabalhadoras enfrentavam custos de oportunidade mais altos na criação dos filhos. Seguindo esta linha de raciocínio, à medida que mais mulheres ingressavam no mercado de trabalho, as taxas de natalidade deveriam ter caído.
Mas, no ano 2000, depois de a proporção de mulheres trabalhadoras ter aumentado 17% em países como os Estados Unidos da América e a Grã-Bretanha, essa tendência sofreu uma inversão. Entre os países ricos, as taxas de fecundidade foram mais altas naqueles onde a maioria das mulheres trabalhava. Uma questão que intrigou os demógrafos. O que mudou afinal?
Um novo estudo publicado pelo National Bureau of Economic Research argumenta que a reversão foi impulsionada por mudanças culturais e políticas. Em países como os Estados Unidos da América e a Noruega, tornou-se económica e socialmente mais fácil manter um emprego e ser mãe. Como resultado, a taxa de natalidade aumentou. Mas, em lugares onde os dois permaneceram em conflito, por exemplo em Itália e em Espanha, as mulheres ainda trabalhavam menos e tinham menos filhos.
Em Portugal, segundo dados da Pordata sobre 2021, há 2,4 milhões de mulheres trabalhadoras, o que equivale a metade da população empregada. A maioria é mãe e tem o ensino superior completo. Apenas cerca de um em cada dez bebés nascidos são de mães fora do mercado de trabalho. Quatro em cada dez são de mães com o ensino superior.
Em 2019, mais de metade das mães “de primeira viagem” tinham entre 30 e 34 anos. Na faixa etária seguinte (35-39), quatro em cada dez bebés eram primogénitos. Em 1991, a proporção de primeiros filhos entre os 35 e os 39 anos não chegava aos dois em cada dez. As mulheres têm vindo a optar por serem mães pela primeira vez numa idade mais tardia. Em 1960 a idade média para o nascimento do primeiro filho estava fixada em 25 anos. Em 2020 já estava nos 30,7. Um adiamento que reduz a probabilidade de famílias numerosas.
Os autores do documento The Economics of Fertility: A New Era, Matthias Doepke, Anne Hannusch, Fabian Kindermann e Michèle Tertilt, encontraram justificação para taxas de fertilidade mais elevadas em quatro fatores: os mercados de trabalho estão mais flexíveis, os pais são mais cooperativos, as normas sociais tornaram-se mais favoráveis e foram criadas melhores políticas familiares.
Na Noruega, por exemplo, país onde os cuidados infantis são altamente subsidiados (em 2021, o governo gastou cerca de 29 mil euros por criança), tanto a taxa de emprego feminino quanto a taxa de fertilidade estão entre as mais altas da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Na verdade, ter 49 semanas de licença parental também ajudam.
Contudo, os gastos públicos não são os únicos fatores que incentivam as pessoas a terem filhos. Os fatores sociais também têm um papel determinante na hora de pensar em aumentar a família.
Os Estados Unidos da América ocupam o último lugar da OCDE em gastos com cuidados infantis, distribuindo apenas 500 dólares por criança a cada ano. É também o único país sem licença de maternidade remunerada. No entanto, os homens fazem mais tarefas domésticas e cuidam mais dos filhos do que na maioria dos restantes países da OCDE.
Quanto mais as mulheres tiverem a vida, privada e profissional, facilitada, maior probabilidade de aumentar as taxas de fertilidade.