“Quero saber como é ser um morcego para um morcego. No entanto, se tentar imaginá-lo, estou limitado aos recursos da minha própria mente, e esses recursos são inadequados para a tarefa”, escrevia, desalentado, o filósofo norte-americano Thomas Nagel, em 1974. Nesse ano de revoluções e recomeços, publicava o seu ensaio seminal What is it like to be a bat? (“Como é ser um morcego?”), no qual defendia que a forma como os outros animais experienciam o mundo é subjetiva e, como tal, impossível de ser descrita pelos seres humanos. “Afinal, o que resta da experiência de ser um morcego se retirarmos o ponto de vista do morcego?”, questionava-se.
Ao tentarmos compreender como as outras espécies percecionam o que as rodeia, estamos inevitavelmente limitados pelos nossos cinco sentidos. E a tentação de antropomorfizar tudo o que os animais sentem é irresistível. “Olhamos sempre para as outras espécies a partir do nosso próprio ponto de vista. É inescapável”, admite Manuel Sant’Ana, especialista do Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal (CIISA) da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.
