Não. Três letras que morrem na boca de quem, por medo, não pode dizê-las. Não às mensagens insinuantes de madrugada, não às bolsas de doutoramento que se perdem quando se denuncia um professor que passou dos limites, não a uma matrícula congelada para evitar a ansiedade de confrontar o agressor, não ao medo de nunca entrar no mercado de trabalho, se se enfrentar determinado assistente ou mesmo regente, não às cadeiras que ficam por fazer, porque “é melhor ter cuidado com aquele professor que gosta de alunas do primeiro ano”, não à impunidade de homens adultos que, pela exaustão, pela manipulação, pela pressão e pelo poder, tentam transformar o “não” de jovens de 18, 19 ou 20 anos num “sim”.
Ao entardecer do passada dia, 7, centenas de estudantes juntavam-se ao pé do relvado da Alameda da Cidade Universitária, em Lisboa. O vento frio não abafou as vozes nem a vontade de mudança, e as palavras de ordem sucederam-se em catadupa. “Assédio abafado, abaixo a patriarcado”, “toca numa, toca em todas”, “somos pessoas e não mercadoria”.