“Eu sou uma pessoa da aldeia. Não estou a perceber: o senhor foi intermediário, os outros encostaram-no à parede e o senhor teve de lhes pagar uma comissão mas, ao mesmo tempo, também pagaram a si uma comissão?” “Correto.” Seis anos depois de ter sido interrogado pelo juiz Carlos Alexandre (6 de fevereiro de 2016) e de ter ouvido o próprio magistrado judicial a confessar-se “apalermado” com o que estava a ouvir, José Veiga já tem uma certeza: até ao final do mês de maio, o Ministério Público terá de decidir se o acusa ou não pelos crimes que está indiciado no processo Rota do Atlântico: fraude fiscal, corrupção no comércio internacional e branqueamento de capitais. Este é o processo com mais dinheiro apreendido à ordem dos autos. Entre contas bancárias, carros e imóveis, há 180 milhões de euros bloqueados pela Justiça.
O encerramento da investigação é o que determina um despacho da Procuradoria-Geral da República (PGR). No final do ano passado, a PGR aceitou um pedido de aceleração processual feito pelos advogados do empresário, considerando que a investigação já corria há tempo suficiente para que fosse proferido um despacho final. Não é certo que tudo termine, contudo, com uma acusação contra o homem que já foi agente de jogadores de futebol e diretor desportivo do Benfica e que – após um processo no Luxemburgo, em 2006, que levou a que as suas contas bancárias fossem penhoradas em Portugal e o caso de suspeitas de fraude fiscal na transferência de João Vieira Pinto para o Sporting – arrancou para a diáspora em África, “à procura de negócio”, aterrando e estabelecendo-se na República do Congo.