Um novo estudo da Universidade de Cornell descobriu que os peixes são muito mais comunicativos através do som do que se pensava. Alguns peixes fazem-no mesmo há pelo menos 155 milhões de anos.
“Sabemos há muito tempo que alguns peixes fazem sons”, disse o principal autor Aaron Rice, investigador do Centro K. Lisa Yang de Bioacústica de Conservação do Laboratório de Ornitologia Cornell. “Mas os sons dos peixes sempre foram percebidos como algo raro. Queríamos saber se eram pontuais ou se havia um padrão mais amplo de comunicação acústica em peixes”. E, efetivamente, há.
A análise de Rice e da sua equipa não só sugere que os sons emitidos são comuns, como também descobriu que os peixes esturjões começaram a “conversar em voz alta” há 155 milhões de anos, exatamente na mesma época em que alguns pássaros e mamíferos começaram a comunicar também com sons.
Ao examinar a árvore genealógica dos peixes, os autores da investigação descobriram que a comunicação acústica entre diferentes espécies de peixes evoluiu pelo menos 33 vezes ao longo de milhões de anos, provavelmente devido à diversidade de seus habitats. Assim, garantem, ainda há muito para avaliar sobre a comunicação dos peixes.
“Graças a décadas de pesquisa básica sobre as relações evolutivas dos peixes, agora podemos explorar muitas questões sobre como as diferentes funções e comportamentos evoluíram nas aproximadamente 35.000 espécies conhecidas de peixes”, disse o coautor William E. Bemis, professor de ecologia e biologia evolutiva na Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida. “Estamos a afastar-nos de uma maneira de pensar estritamente humana. O que descobrimos pode dar algumas dicas sobre a comunicação sonora e como ela continua a evoluir.”
Mas exatamente do que é que “falam” os peixes? Rice afirma que os sons são especialmente voltados à atração de parceiros, defesa de fontes de alimento ou territórios, ou alertas sobre a sua localização. Em suma, sexo e comida. “Mas vemos sons mais elaborados a serem produzidos em contextos reprodutivos”, diz.
A investigação aproveitou o conhecimento científico já consolidado, incluindo gravações e artigos científicos descrevendo os sons emitidos por peixes, descrições da anatomia dos animais e referências na literatura prévia à invenção dos microfones subaquáticos. Assim, usaram a variedade de descritores onomatopeicos como “boops”, “honks” e “hoots” para transmitir o que ouviam. “Isto introduz uma comunicação sonora para muito mais grupos do que pensávamos”, disse Rice. “Os peixes fazem tudo. Eles respiram ar, voam, comem tudo e qualquer coisa – neste momento, nada me surpreenderia sobre os peixes e os sons que eles podem fazer.”
Andrew Bass, neurocientista comportamental e coautor do estudo, espera que a pesquisa ajude os humanos a apreciar melhor a complexidade dos outros animais. “Há uma razão pela qual todas estas espécies existem e foram bem-sucedidas”, diz. “Uma grande parte desse sucesso é a comunicação social… [Os humanos] têm uma linguagem muito sofisticada, mas acho que o que nosso estudo mostra é que toda a história da comunicação social através do som é muito antiga. E isso significa que podemos aprender muito com outros animais sobre nós mesmos.”
Publicado na revista científica Ichthyology & Herpetology, o estudo envolveu cientistas da Universidade Howard e da Universidade de Boston, dos Estados Unidos.
Ao divulgar o estudo, os biólogos incluíram amostras de sons emitidos pelos peixes. As gravações incluem também frases dos investigadores, descrevendo os registos.
- Sons do Pagonias cromis, por Donald Batz
- Sons do Opsanus tau, por William Tavolga
- Sons do Holocentrus rufus, por Howard Winn
- Sons do Porichthys notatus, por Andrew Bass