Maria Alexandra Pinho nunca foi uma destacada figura pública, mas tornar-se-ia peça fundamental do esquema que, segundo o Ministério Público (MP), permitiu a Manuel Pinho receber uma avença mensal de 15 mil euros da Espírito Santo Enterprises – o chamado “saco azul” do Grupo Espírito Santo (GES) –, durante os anos em que o marido integrou o Governo de José Sócrates (entre 2005 e 2009). Durante esse período, o dinheiro das “luvas” terá sido transferido para uma conta titulada pela offshore Tartaruga Foundation, sediada no Panamá, que tinha como beneficiários o ex-ministro da Economia e a sua mulher – parte significativa desse dinheiro terá, aliás, passado também pelas contas de Maria Alexandra em Portugal.
Manuel e Maria Alexandra Pinho conheceram-se após terminado o primeiro casamento do antigo governante – que tinha sido casado com Maria Paula Serra, com quem teve três filhos. Do seu primeiro matrimónio, Maria Alexandra também já tinha sido mãe, neste caso, de dois filhos. Entre 2004 e 2014, Maria Alexandra Pinho juntou-se ao Banco Espírito Santo (BES) – onde Manuel Pinho era administrador desde 1994 – como curadora da coleção de arte do banco, a BES Arte, proprietária de uma vasta e rica coleção fotográfica. Pelas funções exercidas, Maria Alexandra recebia um salário de 6.930 euros mensais, segundo o MP.

Na primeira década deste século, o casal Pinho viveu sem preocupações. Bem sucedidos profissionalmente, unia-os o amor à arte – que sempe faziam questão de referir quando davam entrevistas. Quando Pinho subiu ao Governo, colou-se ao casal uma imagem de harmonia: não eram raras as troca públicas de elogios e declarações de amor. Ainda assim, a discrição continuou a pautar o quotidiano.
Por esta altura, Manuel e Maria Alexandra frequentavam a alta roda, e eram presença comum nas festas que atraíam o mais poderosos do País – Ricardo Salgado, ao mesmo tempo patrão e amigo (e de quem o casal era visita de casa), era um deles. Terá sido, precisamente, a partir desta relação de confiança que se estabeleceu o alegado acordo entre o ex-dono do GES e o casal.
Outra suspeita apontada pelo MP, diz respeito ao caso EDP: os investigadores acreditam que Manuel Pinho beneficiou a EDP (de que o GES era acionista minoritáro), em troca de um subsídio atribuído pela energética à universidade norte-americana de Columbia, onde Manuel Pinho daria aulas depois de sair do Governo. Os alegados esquemas valeram a acusação a Maria Alexandre pela prática dos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais
Prisão domiciliária na moradia algarvia de Alexandra
No início de novembro, a Justiça portuguesa confrontou Manuel Pinho com 622 novos indícios, agendando novo interrogatório para a passada terça-feira, 14, no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), em Lisboa – agora conduzido pelo juiz Carlos Alexandre, que substituira Ivo Rosa como titular do processo. Surpreendentemente, os procuradores Carlos Casimiro e Hugo Neto pediram a detenção de Pinho e da sua mulher.
O dia a dia do casal poderá, em parte, ter contribuído para isso. Sem residência declarada em Portugal, Manuel e Maria Alexandra faziam vida, nos últimos anos, entre Espanha, Estados Unidos da América e China. O facto de terem morada oficial em Alicante, na Costa Blanca, Espanha, terá sido um dos argumentos usados pelo MP para alegar risco de fuga e pedir ao tribunal um agravamento das medidas de coação.
Em termos de património, o casal Pinho possui ainda com “um T1 em Nova Iorque (avaliado em um milhão de euros), quatro apartamentos no norte do País, uma casa perto de Braga (onde vai cumprir a maior parte do tempo de prisão domiciliária) e uma quinta”, como enumerou o advogado de ambos Ricardo Sá Fernandes, em entrevista à CNN Portugal, rejeitando a tese de dissipação de património.
Alexandra Pinho, por sua vez, ainda tem outros bens. Alteradas as medidas de coação, para prisão domiciliária, é, precisamente, num imóvel que está em seu nome, e no de uma irmã – uma moradia com piscina e caseiro, em Albufeira, a 200 metros da Praia de Santa Eulália, utilizada pela família como casa de férias – que o casal se encontra, neste momento, a viver, sob vigilância policial.
Até ao pagamento de duas cauções de seis (para Manuel Pinho) e um milhão de euros (para Maria Alexandra), que Sá Fernandes já anunciou que os seus clientes não têm meios financeiros para pagar, os acusados vão aguardar julgamento nestas condições, prevendo-se, mais tarde, uma mudança para o Norte do País. Ambos estão impedidos de sair do país. Manuel não pode comunicar com outros envolvidos no processo (à exceção da própria mulher). E Maria Alexandra ainda tem de cumprir apresentações periódicas quinzenais às autoridades.