Dependendo dos hábitos comportamentais do seu gato, pode já se ter perguntado: será que o meu gato é um psicopata? Um grupo de cientistas da Universidade de Liverpool e da Universidade John Moores de Liverpool sugere que é mesmo possível que assim seja. O grupo desenvolveu um questionário que permite aferir se o seu gato tem traços de psicopatia – a primeira ferramenta para avaliar tendências psicopatas em gatos.
O questionário, chamado CAT-Tri+, contém 46 afirmações sobre o comportamento dos gatos, que os donos dos animais devem preencher, numa escala de um a cinco, consoante se adequem ao comportamento do seu gato ou não. As afirmações incluem: “o meu gato atormenta a sua presa em vez de a matar imediatamente”, “o meu gato vocaliza alto (por exemplo, mia ou uiva) sem razão aparente”, e “o meu gato é muito excitável (por exemplo, fica muito agitado e torna-se descoordenado)”.
O estudo, que contou com a participação de 2042 donos de gatos, foi publicado no Journal of Research in Personality. “O questionário foi desenvolvido utilizando exemplos do comportamento dos gatos, oferecidos pelos seus donos, no contexto do modelo triárquico de psicopatia (ousadia, maldade e desinibição)”, explica Rebecca Evans, autora principal do estudo. “O questionário final mede cinco fatores de psicopatia felina: ousadia, maldade, desinibição, relação com animais de estimação e relação com o ser humano”.
A ‘maldade’ está relacionada com traços de caráter como a falta de empatia ou tendência para a agressividade; a ‘desinibição’ está relacionada com problemas de contenção comportamental, e a ‘ousadia’ pode ser caraterizada pela dominância social e baixos níveis de medo.
De acordo com os investigadores, os resultados do estudo revelaram que “é provável que todos os gatos tenham um elemento de psicopatia”. Mas existe uma explicação: este traço “teria sido adaptável para os seus antepassados em termos de aquisição de recursos (por exemplo, comida, território e oportunidades de acasalamento)”, esclarece Evans. Acrescentou ainda: “acreditamos que, como qualquer outro traço de personalidade, a psicopatia pode apresentar diferentes graus de pontuação em cada animal” – tal como nos seres humanos.
Evans espera ainda que os resultados deste estudo possam ajudar os donos de gatos a entender os seus animais e a criarem melhores relações com eles, e reduzir o número de animais que são entregues a abrigos, devido a problemas comportamentais.
“Questões comportamentais como a agressão – conceptualmente relacionadas com a maldade – e a desobediência, conceptualmente relacionadas com a desinibição, estão ligadas a cerca de 38% dos abandonos de gatos a abrigos no Reino Unido. A eutanásia de animais indesejados é também a principal causa de morte dos gatos domésticos”, diz Evans. “É por isso que é importante que procuremos compreender como a personalidade felina afeta a qualidade da relação do gato com o seu dono”.
De acordo com Evans, há também algumas coisas que podemos fazer para ‘ajudar’ os nossos gatos que apresentem estes traços: “um gato que tenha uma pontuação alta na escala da ousadia pode beneficiar de grandes árvores de gatos e de postes de arranhar altos, uma vez que o questionário Cat-Tri+ sugere que um gato ousado gosta de explorar e escalar”. O questionário pode ser usado tanto pelos donos de gatos como por veterinários, e ajudar a identificar tendências comportamentais indesejadas e trabalhar para as controlar.