Que o corpo humano se adapta às condições envolventes, tendo sofrido várias alterações ao longo dos tempos, não é novidade. A altura é um dos parâmetros que se vai modificando e estudos já mostraram que a nossa altura não é apenas uma questão de genética, mas também é influenciada pelo ambiente em que vivemos e por fatores-chave como a alimentação e as doenças a que estamos expostos.
Nas últimas décadas, a altura tem aumentado, mas não em todos os países. Em 2016, investigadores do Imperial College London, Reino Unido, revelaram que entre 1914 e 2014 as mulheres sul-coreanas ganharam mais de 20 cm de altura, em média, e os homens e mulheres no Reino Unido ganharam cerca de 11 cm . Noutros países, incluindo os Estados Unidos, a altura atingiu recentemente um patamar estável.
Segundo os especialistas da Statistics Netherlands (CBS), uma instituição do governo holandês, embora a Holanda continue a ser a nação mais alta do mundo desde desde 1958, as mulheres holandesas nascidas em 2001 são em média 1,4 cm mais baixas do que as nascidas em 1980, enquanto que para os homens o declínio é de 1 cm.
De acordo com Majid Ezzati, presidente de saúde ambiental global do Imperial College London, citado pelo The Guardian, confirmar se os holandeses estão, de facto, a reduzir a sua altura demorará ainda alguns anos, mas “se esta tendência for real, é quase certo que se deve à nutrição”.
É pouco provável que a genética seja uma explicação. Ezzati observou que esse já foi um fator importante na determinação da altura de um indivíduo, mas os dados atuais sugerem que os genes associados à estatura não se restringem a populações específicas e tais mudanças evolutivas levariam bem mais do que algumas décadas para mostrar efeitos na sociedade.
A migração, que também foi sugerida pela CBS como tendo influência nos dados mais recentes da altura dos holandeses, uma vez que “a diminuição está parcialmente relacionada ao aumento da imigração de novos grupos populacionais mais baixos e das crianças nascidas dessas populações na Holanda”, foi considerada improvável por Ezzati, dado à escala da migração para a Holanda e o tamanho das alterações na altura dos holandeses.
“Mas o crescimento também estagnou nas gerações em que ambos os pais nasceram na Holanda e nas gerações em que os quatro avós nasceram na Holanda. Homens sem histórico de migração não ficaram mais altos e mulheres sem histórico de migração mostram uma tendência decrescente” referiram os especialistas da CBS.
Ezzati acredita que o crescimento da população nas últimas décadas se deveu ao programa holandês que fornece leite às crianças enquanto estão na escola. Porém, as mudanças na nutrição podem ocorrer em ambos os sentidos e ainda não é possível perceber se uma nutrição deficiente é limitada a dados demográficos específicos por causa da falta de condições e acesso a alternativas mais saudáveis, ou se a mudança abrange toda a população, refletindo novas modas e tendências sociais.
“Talvez a crise financeira tenha significado que algumas crianças cresceram em condições mais precárias do que nas gerações anteriores”, avança Gert Stulp, da Faculdade de Ciências Sociais e Comportamentais da Universidade holandesa de Groningen ao The Guardian. “Ou talvez a desigualdade tenha aumentado, sabemos que a desigualdade afeta a altura média, as condições precárias na infância levam a menos crescimento”.
Por exemplo, numa investigação desenvolvida no Reino Unido pela equipa de Ezzati, embora as crianças inglesas, independentemente do género, se tenham tornado mais altos nas últimas décadas, a taxa de crescimento não foi tão grande quanto a de crianças em outros países ricos e um fator destacado para explicar os resultados é o acesso deficiente a alimentos nutritivos para aqueles que não têm condições de os comprar.
Entre 65 milhões de crianças em 193 países, concluiu-se uma diferença de 20 centímetros entre as nações mais altas e mais baixas, impulsionada por diferenças marcantes na nutrição infantil e nas condições de vida.
No ponto de vista de Gert Stulp “as dietas podem ter mudado. Talvez as dietas dos últimos anos tivessem menos nutrientes importantes para o crescimento. São dietas mais pobres, com mais calorias, mas menos nutrientes. Especula-se ainda que a diminuição na altura pode dever-se ao facto de cada vez mais pessoas deixarem de fora produtos de origem animal nas suas dietas. Mas, novamente, não há certezas disso”.
Ezzati sugere que o pico de altura média para humanos provavelmente não será alcançado enquanto toda a população não tiver acesso a uma boa nutrição, possivelmente durante várias gerações.