Se, “antes disto tudo”, alguém lhe tivesse dito que ia estar mais de um ano sem ir para a cama com uma mulher, António havia de achar a ideia “completamente ‘fora’” e desataria a rir-se. “Gosto de sexo”, admite o designer gráfico, de 42 anos, com uma gargalhada. “Fui sempre saudável nesse aspeto, não punha a hipótese de que isso pudesse acontecer-me.” E, no entanto, foi o que lhe aconteceu. Ou melhor (“ou pior!”), o que está acontecer-lhe. Desde dezembro de 2019 que António não tem qualquer intimidade com uma mulher. “Nada.”
A entrada em 2020 foi marcada pelo “fim anunciado” de um namoro de quase dois anos. Na altura, aceitou o desfecho sem dramas. Divorciado, pai de uma criança pequena de quem tem a guarda partilhada, não podia antecipar que iria, em breve, ser “apanhado” por uma pandemia sem estar numa relação estável. A expressão é sua, como se a pandemia fosse um comboio em andamento e ele um passageiro involuntário numa viagem sem fim à vista. Se, até ao primeiro confinamento, ainda se envolveu sexualmente com duas pessoas que conheceu em saídas noturnas, em Lisboa, não tem “nada com ninguém” desde março do ano passado. “Como acabaram as noites e o resto da minha vida social e cultural está au ralenti, nada é mesmo nada”, repete. “E só espero que isto tudo acabe depressa antes que eu fique doido.”