Não é preciso ser-se uma cat person ou sequer conviver habitualmente com gatos para já ter dado pela sua aparente paixão por caixas. E quem diz caixas diz um-espaço-qualquer-aconchegante-onde-eles-são-capazes-de-se-enfiar. Basta googlar a expressão “If it fits, I sits” para a pesquisa devolver milhares de fotografias, memes, gifs e vídeos de gatos e gatinhos que se contorceram até ao impossível para conseguirem aninhar-se em caixas de cartão ou de plástico, baldes, taças de vidro ou de metal, cestos, vasos, lavatórios, sacos de compras, malas, cantos da casa, cuecas (sim, cuecas).
Também não é de hoje que esta sua tendência fofa, cómica e aparentemente obsessiva intriga o comum dos mortais e os investigadores que estudam o comportamento animal. Afinal, o que levará os gatos a terem esse hábito?
Serão saudades do tempo em que dormiam em ninhada? Estarão a esconder-se (mesmo que de rabo de fora), por receio de alguma coisa ou de uma determinada pessoa? Poderão ser resquícios do instinto de predador, parte de uma estratégia de caça (nem que seja de uma mosca)? Ou quererão eles apenas tentar passar despercebidos para serem deixados em paz e sossego?
Se for a última hipótese, obtêm exatamente o resultado contrário. Haverá poucas coisas tão atrativas para uma pessoa que vive com um gato do que espreitá-lo, fotografá-lo ou filmá-lo espremido num tupperware.
Não admira, por isso que um novo estudo sobre este comportamento, que muitos olham como um verdadeiro fenómeno, se tenha tornado viral ao ser publicado na revista Applied Animal Behaviour Science. “Não posso acreditar na atenção que está a ter”, admitiu, à revista The Atlantic, a bióloga Gabriella E. Smith, que liderou a investigação no Hunter College, da Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Especialista em comportamento animal, Gabriella E. Smith decidiu testar a ideia de que os gatos são atraídos mesmo por uma caixa sem quaisquer fronteiras verdadeiras. Usando a ilusão do quadrado de Kanizsa – uma ilusão de ótica em que quatro desenhos de Pac-Man, estrategicamente colocados, evocam a perceção de um quadrado que não existe – os investigadores quiseram descobrir se os gatos domésticos iriam instintivamente “atacar” essas caixas falsas.
A experiência envolveu 500 gatos de estimação e destes apenas 30 cumpriram todos os testes. A maioria não mostrou qualquer interesse por nenhuma das formas, reais ou ilusórias, e apenas nove selecionaram pelo menos um estímulo, sentando-se dentro dos contornos (ilusórios ou não), durante pelo menos três segundos.
O estudo revelou que os gatos selecionaram a ilusão de ótica com a mesma frequência que o quadrado real, indicando que os gatos domésticos podem tratar os contornos subjetivos de Kanizsa da mesma forma que tratam os reais. Já havia evidência científica anterior de que os gatos cobiçam formas achatadas com perímetros óbvios. Esta experiência, embora envolvendo poucos animais, é mais um passo importante nesse sentido.
Qualquer pessoa que viva com um gato já se apercebeu da sua atração por tapetes de rato ou mesmo por vulgaríssimas folhas A4. O fenómeno dos gatos-dentro-de-caixas deve, por isso, ser entendido com gente por perto, dizem os especialistas. O facto de os humanos lhes darem atenção sempre que os encontram nesses preparos pode levá-los a adotar o comportamento. Pense nisso a próxima vez que vir o rabo de um gato a sair de uma caixa de cartão.