Desde que Bill e Melinda Gates anunciaram o seu divórcio que várias têm sido as reações e especulações sobre os impactos desta separação. Na China, onde o magnata é considerado como “um velho amigo do povo chinês” e tem uma fama que não é habitual para um empresário do Ocidente, estas reações são ainda mais significativas. No Weibo, uma plataforma similar ao Twitter, o tema encontra-se em quarto lugar nas tendências, contando por enquanto com 890 milhões de visualizações e 69 mil publicações.
São vários os temas que podemos ver comentados na rede, desde como iria o casal dividir a sua fortuna ou se o divórcio iria afetar a Microsoft ou a Gates Foundation, uma organização sem fins lucrativos da qual são fundadores. A própria crença no casamento foi posta em causa. “Até vocês se divorciam. Como podem os restantes de nós ter esperança de entrar num casamento?”, pode ler-se no Weibo. O casal estava junto há 27 anos e tem três filhos.
Várias importantes figuras da China juntaram-se também à discussão, como Kai-fu Lee, antigo responsável pela Google na China, admitindo que não podia acreditar na notícia. “São o casal mais afetuoso que vi entre os empresários famosos.”
A fortuna de Bill Gates, segundo o Bloomberg Billionaires Index, é avaliada em 145 mil milhões de dólares (120 mil milhões de euros), sendo a quarta pessoa mais rica do mundo. O casal fez, no entanto, um juramento de doar a grande maioria da sua riqueza para a caridade. Através da sua organização filantrópica tem doado 53.8 mil milhões de dólares (44.7 mil milhões de euros) para resolver questões como problemas mundiais de saúde, o alívio da pobreza e outros projetos de apoio ao desenvolvimento internacional.
Algumas das respostas ao anúncio do divórcio na conta de Weibo do bilionário foram a agradecer a contribuição do casal nessa ajuda mundial. “Vocês fizeram uma enorme contribuição para as pessoas de todo o mundo. Mesmo que já não estejam de mãos dadas no futuro, espero que a vossa fundação continue a ajudar mais pessoas”, pode ler-se numa publicação. Várias são também os comentários expressando a preocupação pelo futuro da fundação. No entanto, o casal já anunciou que iram continuar a trabalhar nesta em conjunto. “Não está planeada nenhuma mudança aos seus papeis ou à organização. Irão continuar a trabalhar juntos para moldar e melhorar as estratégias e desenvolver os problemas da fundação, e definir a direção geral da organização”, avançou a Gates Foundation.
A preocupação e o destaque dados ao empresário na China advêm, em parte, do impacto que tanto este como a Microsoft, empresa que fundou, têm no país. Apesar de já não ser Bill Gates a gerir a Microsoft, esta passou décadas a construir uma relação com o governo chinês. Assim, podemos ver que, ao contrário da maioria das empresas tecnológicas, que estão proibidas no país, os produtos da Microsoft têm uma presença considerável no mercado chinês. Empresas como o Facebook ou o Twitter têm as suas redes sociais bloqueadas, mas, por outro lado o LinkedIn (que pertence à Microsoft) é uma das poucas redes sociais ocidentais autorizadas. Outro produto da Microsoft permitido é o motor de pesquisa Bing, enquanto que o Google não o é. Também a fundação tem trabalhado com o governo chinês em vários projetos, desde 2007, ano em que estabeleceu um gabinete em Beijing. A prevenção do HIV e a redução da pobreza são alguns destes.
O próprio Bill Gates já visitou o país mais de 12 vezes, mantendo uma boa relação com os seus líderes. O magnata foi recebido pela primeira vez, em 1994, pelo Presidente Jiang Zemin, antes da China ter acesso à internet. Na época o país queria abrir a sua economia ao resto do mundo e alcançar o mesmo avanço tecnológico que já se via no Ocidente. O magnata prometeu na altura que a Microsoft ia ajudar o governo a desenvolver a indústria de software do país, o que permitiu, também, que a empresa se expandisse no mercado chinês.
A relação do bilionário com o governo vai ainda mais longe. Em 2006, Bill Gates convidou o Presidente Hu Jintao para jantar em sua casa em Washington. Já em plena crise de Covid-19, no ano passado, o Presidente Xi Jinping escreveu a agradecer a Bill Gates pela ajuda no combate à pandemia. Todas estas razões levaram o governo chinês considere o americano “um velho amigo do povo chinês”, título concedido pelo Partido Comunista, em 2018. Este título é dado ocasionalmente a estrageiros reconhecendo a sua amizade e importância para o país. Em Portugal, pessoas como Mário Soares e Cavaco Silva receberam essa honra.