Na quarta-feira, estavam hospitalizadas 2 337 pessoas com Covid-19 em Portugal, 218 foram internadas no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), ou seja, quase 10% do número total.
Para fazer face às dificuldades, o CHTS está a tentar recrutar médicos prestadores de serviços para a urgência, oferecendo-lhes €18 por hora, um pagamento abaixo do valor de referência, que está fixado em €22 para os médicos não especialistas e em €26 para os especialistas, denuncia o Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
No entanto, o despacho legal que define estes valores de referência estabelece-os como limites máximos do pagamento efetuado pelos hospitais às empresas de prestação serviços médicos. Neste caso, o valor de €18 brutos será pago diretamente ao médico e não a um intermediário.
“É muito pouco atrativo, tendo em conta as condições de trabalho”, defende o médico Hugo Cadavez, que pertence ao secretariado regional do Norte do SIM.
O email com a oferta de emprego, recebido por vários médicos na passada terça-feira, dia 3, foi enviado por uma empresa de prestação de serviços médicos e não pelo próprio hospital.
“Este valor [€18] não é comparável com a carreira médica”, frisa o também membro do secretariado nacional do (SIM). “No limite, o pagamento habitualmente praticado pode chegar aos trinta e tal euros”, acrescenta.
“Mas a prestação de serviços nunca é a melhor solução para resolver o problema da falta de recursos humanos”, contrapõe. “Esta opção resulta do facto de o SNS não conseguir atrair ou fixar médicos, não só pela questão salarial, mas também pela sobrecarga de trabalho existente”, afirma.
A administração do centro hospitalar já tinha admitido que “é preciso mesmo ajuda”, numa mensagem de correio eletrónico enviada à Administração Regional de Saúde (ARS) Norte e ao ministério da Saúde, na passada segunda-feira, dia 2.
“Se tiverem médicos de clínica geral que possam vir fazer urgência era bom porque tivemos aqui alguns positivos que fragilizaram as escalas e está complicado”, admitia o presidente do conselho de administração, Carlos Alberto Silva.
Com uma capacidade para cerca de 450 doentes em internamento, 218 vagas do centro hospitalar estavam ocupadas com doentes infetados com Covid-19, à data de ontem
Desde o dia 1 de outubro, de acordo com a Ordem dos Enfermeiros (OE), infetaram-se 140 profissionais de saúde do centro hospitalar, ao qual pertencem o hospital Padre Américo, em Penafiel, e o hospital de São Gonçalo, em Amarante. Só na Urgência, estavam positivos 16 dos 70 enfermeiros da equipa. O presidente da seção regional Norte da OE, João Paulo Carvalho, também denuncia “que não é com contratos de quatro meses, que estão a ser oferecidos aos enfermeiros, que se convence os profissionais a integrarem um cenário de alto risco”.
O hospital Padre Américo tem recebido muitos dos doentes de alguns dos concelhos mais afetados pela pandemia do País, como Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira ou Paredes.
Com uma capacidade para cerca de 450 doentes em internamento, 218 vagas do centro hospitalar estavam ocupadas com doentes infetados com Covid-19, à data de ontem. Trinta pessoas permaneciam internadas na Urgência a aguardar lugar numa enfermaria.
Contactado pela VISÃO, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa não confirmou se este processo de recrutamento continua a decorrer nos mesmos moldes.