Em março, o mundo fechou-se em casa. A indústria e serviços foram reduzidos ao mínimo e o turismo parou quase por completo, naquele que foi o período mais silencioso da História moderna. Um grupo de cientistas investigou, agora, o impacto do confinamento nas vibrações na Terra causadas pela atividade humana – e concluiu que estas se reduziram em 50%. A diminuição foi, naturalmente, mais pronunciada em áreas altamente povoadas.
Foi este silêncio que permitiu que os investigadores ouvissem sinais de sismos anteriormente ocultos e que pode vir a ajudar a distinguir entre o ruído sísmico humano e o natural de uma forma que não era possível antes. E isto pode ser crucial para alertar sobre futuros eventos sísmicos com uma maior antecedência.
O ruído sísmico é causado por vibrações dentro da Terra, que viajam como ondas e que podem ser desencadeadas por causas naturais como terramotos e vulcões, mas também pela atividade humana diária, nomeadamente através das viagens e da indústria.
“A duração e a inatividade deste período representam a redução de ruído sísmico global mais longa e mais coerente da história, destacando como as atividades humanas afetam a Terra”, lê-se no estudo. E alguns investigadores já deram nome a esta diminuição do ruído e poluição causados pelo homem: durante meses, vivemos então na “antropausa”.
Ao todo, foram analisados dados de 268 estações sísmicas em 117 países e 185 estações registaram reduções significativas de ruído entre março e maio, em relação a valores anteriores ao confinamento. As maiores quedas nas vibrações foram observadas em áreas altamente povoadas, como Singapura e Nova Yorque, mas também se fizeram sentir em áreas remotas como a Floresta Negra da Alemanha.
“O confinamento causado pela pandemia do coronavírus pode ter-nos dado um vislumbre de como o ruído humano e natural interage com a Terra”, diz Hicks Stephen Hicks, co-autor do estudo.