A febre dos MOOC (Massive Open Online Courses), cursos gratuitos online disponibilizados em massa, começou há oito anos, quando Sebastian Thrun, vice-presidente da Google, lançou um curso sobre Inteligência Artificial na internet e teve 160 mil interessados em 190 países. A partir daí, criaram-se plataformas com a mais diversificada oferta, e aceder a aulas e a cursos de universidades prestigiadas e instituições de todo o mundo tornou-se um fenómeno.
O processo é simples: basta consultar as listas de tópicos de interesse e aceder a conhecimentos específicos a partir de uma ligação virtual, em qualquer parte do mundo, à medida das disponibilidades de tempo e dos recursos de cada um. A maioria destes cursos tem frequência gratuita, sobretudo os dirigidos a iniciados, e a diferenciação faz-se em função da cotação atribuída pelos participantes e da sua pertinência para obter uma promoção ou desenvolver competências (soft skills incluídas).
A popularidade assenta na instituição, nos professores e nas qualificações mais requisitadas no mercado de trabalho. A alma do negócio está ancorada nas certificações, quase todas pagas, e que servem de cartão de visita na hora de procurar emprego, de mudar de carreira ou de progredir naquela que se tem.
Patrick Götz é português, tem 45 anos e uma licenciatura em Administração e Gestão de Empresas, na Universidade Católica. Depois de anos a trabalhar em multinacionais na área financeira e no setor do automóvel, decidiu apostar num projeto próprio e fundou a Teckies, empresa de formação em robótica e programação para crianças. “Eu já tinha o MBA do ISCTE e procurava um curso prático de Gestão de Projetos sem os custos do registo presencial”, explica. Encontrou o que precisava na plataforma Udemy, atrativa pela diversidade temática e o registo low-cost: por pouco mais de uma dezena de euros, o Technical Institute of America dá-lhe uma certificação por 35 horas de formação 100% digital, ao seu ritmo, com aulas, documentos escritos e vídeos. Além de aprender competências novas em pouco tempo, Patrick Götz aponta outra vantagem: “Quando terminar vou candidatar-me ao exame do Project Management Institute Portugal para ter a acreditação e dar formação em escolas e empresas.”
A revolução dos MOOC
Democratizar o acesso à educação com qualidade sem as barreiras da localização e do custo é o trunfo das formações virtuais gratuitas ou low-cost de curta duração. Num artigo publicado em janeiro, no site freeCodeCamp, Dhawal Shah, fundador do Class Central, o maior motor de busca para cursos online, dava conta de 450 cursos online gratuitos (MOOC) promovidos pela Ivy League, o grupo das oito escolas privadas norte-americanas de topo. O leque da oferta é vasto, abrangendo áreas como Ciência da Computação, Desenvolvimento Pessoal, Programação, Saúde e Medicina, Engenharia e Matemática. Inquirido pela VISÃO, Shah fez saber que, “desde 15 de março, foram registados 90 mil visitantes portugueses”.
Se a ideia for aprender com os gigantes tecnológicos, eles estão todos na Udacity, plataforma conhecida por “Universidade de Silicon Valley”, que propõe a especialização em Tecnologias de Informação (IT) para quem tem já tem um grau universitário e deseja investir num diploma Nanodegree (modalidade MOOC com mentoria personalizada) que, não sendo um título académico, é internacionalmente reconhecido.
Já a edX lidera nas formações gratuitas em Ciência de Dados (Inteligência Artificial, Cloud Computing e afins), Gestão, Negócios e Línguas (com o mandarim à cabeça). Nas Humanidades, destaca-se o curso de Epidemias (duas a três horas por semana, ao longo de cinco semanas, nível introdutório), ministrado por professores da Universidade de Hong Kong.
À boleia da quarentena
“Estar confinado não é estar parado, e aproveitei esse tempo para fazer uma reciclagem em Marketing Digital”, afirma Pedro Guedes. Aos 45 anos, o diretor de uma escola profissional de costura e design de moda não se ficou pela licenciatura do Instituto Politécnico de Setúbal nem pelo MBA da AESE Business School. Nos últimos anos, abraçou vários cursos online de curta duração com o intuito de ampliar conhecimentos, investindo pouco ou nada mesmo.
Foi o caso da formação de 40 horas do Google Atelier Digital, no início de abril, “para relembrar conceitos, aprender novos e aplicá-los na minha escola”. Pedro reconhece que “a modalidade não serve para todos, pois áreas como a eletricidade ou a costura implicam a presença física para uma aprendizagem eficaz”. Na área do marketing, “os cursos tradicionais podem custar entre 300 e 600 euros, mas é possível fazê-los através de um MOOC por dez euros”, remata.
No site da Udemy, com 700 cursos grátis e mais de 140 em português, as promoções (cursos de €200 ficam a €10) estão na ordem do dia. Entre os mais visitados estão o curso de Desenvolvimento de Sites em HTML ou de Criação de Jogos em JavaScript, que habilitam o utilizador a implementar projetos na web.
O “amor” dos portugueses no que às plataformas diz respeito vai para a Coursera e para os níveis de certificação que disponibiliza (alguns acima de €100). No email enviado à VISÃO por Anthony Tattersall, dirigente da plataforma para a Europa, Médio Oriente e África, ficamos a saber que, em abril, face a idêntico período do ano passado, houve um aumento de 529,2% dos inscritos portugueses, com as seguintes preferências temáticas: A Ciência do Bem-estar (Universidade de Yale), O que é a Arte Contemporânea (The Museum of Modern Art), Ver Através de Fotografias (The Museum of Modern Art), Mercados Financeiros (Universidade de Yale) e Aprender a Planear: Poderosas Ferramentas Mentais para Ajudá-lo a Dominar Assuntos Difíceis (Universidade da California, San Diego).
Com universidades, institutos, empresas e profissionais liberais na corrida dos conteúdos gratuitos inteiramente digitais, até que ponto a sobrevivência da academia não fica comprometida, bem como o valor real das formações adquiridas? “São negócios distintos e envolvem públicos diferentes”, esclarece José Júlio Alferes, pró-reitor para a transformação digital da Universidade Nova de Lisboa. “Ninguém contrata uma pessoa que fez um destes cursos pelo MIT, se tiver outro candidato que lá esteve e entrou por ser excelente”, nota o docente em Ciências da Computação.
O ensino normal não fica comprometido, desde logo por não ser massificado. “Ao aceitar todos, incluindo os que não entraram em universidades, com aulas e mentoria, os MOOC fornecem conhecimento, e essa opção é melhor do que nenhuma.” Por seu turno, as universidades de elite “têm programas massivos gratuitos, equivalentes a um início de mestrado, que funcionam como uma pré-seleção dos melhores alunos que estas podem convidar para ingressar nos cursos presenciais”.
A razão pela qual as universidades portuguesas ainda não entraram seriamente neste mercado (a última entrada na MOOC é do Instituto Superior Técnico, em Física Experimental, em setembro do ano passado) é, “em boa parte, por inércia”. Talvez não seja por muito tempo. O confinamento trouxe a imersão no modo “tele” (teletrabalho, telescola) e no digital, com os números da Fundação para a Computação Científica Nacional a falarem por si: em abril, realizaram-se mais de 248 304 aulas e reuniões virtuais com 4,5 milhões de participantes através do serviço Colibri (licença Zoom para universidades e politécnicos), bem acima dos 206 586 participantes de 2019. Depois disto, nada ficará como antes.
Aprender lá fora sem custos (ou quase)
Este é o top 3 das plataformas globais de acesso livre a cursos digitais ministrados por instituições e empresas credenciadas
Coursera
Cursos gratuitos das principais universidades do mundo. Parcerias com empresas (IBM, Google e PwC, entre outras) e certificados geralmente pagos. Opção de apoio financeiro
EdX
Permite acesso livre e low-cost a cursos diversificados de universidades prestigiadas e de instituições de todo o mundo. Tem igualmente um programa de assistência financeira
Udacity
Aposta nas áreas tecnológicas e nos programas Nanodegree, com mentoria e acesso a projetos reais em parceria com indústrias de topo (começam nos €370). Acesso livre por 30 dias
Cursos populares online
O que deve saber:
A maioria dos cursos tem opção de acesso a dispositivos móveis e na TV
Avalie as classificações dos participantes, o programa e os formadores
Verifique os pré-requisitos e as línguas disponíveis
Confirme se são cursos integrados e qual o seu grau (iniciado, intermédio ou especialização)
Identifique se o acesso ao material do curso depende da aquisição de certificado
Confira eventual reconhecimento académico de certificações intermédias e avançadas
What is Contemporary Art?
Entidade
MoMA, via Coursera
Duração
11 horas, horário flexível
Custo
Grátis, €45 pelo certificado
Curso Completo de Marketing Digital
Entidade
Up Mind Courses, via Udemy
Duração
28,5 horas, gestão flexível
Custo
€9,99 (promoção; custo-base: €199,99)
The Science of Well-Being
Entidade
Universidade de Yale, via Coursera
Duração
19 horas, gestão flexível
Custo
Grátis; €45 pelo certificado
Introduction to Computational Thinking and Data Science
Entidade
MIT, via edX (nível intermédio)
Duração
11 semanas, 14 a 16 horas semanais
Custo
Grátis, €70 pelo certificado
Empreendedorismo em economias emergentes
Entidade
Universidade de Harvard, via edX
Duração
6 semanas, 3 a 5 horas semanais
Custo
Grátis; €115,70 pelo certificado
Google Ads Completo 2020 – 7 cursos em 1
Entidade
André Fontenelle (Instrutor #1 da Udemy Brasil)
Duração
9 horas, gestão flexível
Custo
€10,99 (promoção; custo-base: €29,99)