Estima-se que o Chicxulub tenha libertado uma energia equivalente à de 10 mil milhões de bombas atómicas como a que caiu em Hiroshima. Para a atmosfera foram lançados cerca de 425 mil milhões de toneladas de CO2 e 325 mil milhões de sulfuretos que terão formado uma neblina tão densa que deixou a Terra praticamente sem luz. O fitoplâncton deixou de produzir oxigénio nos oceanos e a fotossíntese das plantas ficou gravemente comprometida. Para terminar, um tsunami gigantesco terá transportado água desde as Caraíbas até aos grandes lagos do norte dos EUA, ao longo de mais de 2.500 quilómetros, dizimando tudo à sua passagem.
Desta catástrofe só os organismos microbianos praticamente conseguiram resistir. Mesmo assim, a vida conseguiu rapidamente voltar ao planeta. E, segundo um estudo publicado na última semana na revista Geology, as bactérias foram a chave desse processo, nomeadamente as cianobactérias – algas verde-azuladas responsáveis por explosões tóxicas nocivas – que começaram a instalar-se dias depois da catástrofe dentro da cratera quente formada pelo asteroide – com mais de 32 quilómetros de profundidade.
“Estamos a falar de organismos que recuperaram dentro de dias a décadas”, disse Timothy Bralower, professor de geociências da Universidade do Estado da Pensilvânia e coautor do estudo. “Basicamente, os primeiros sobreviventes, os primeiros habitantes da cratera, foram os micróbios. Do ponto de vista geológico, essa descoberta é bastante importante”, concluiu.
As bactérias estão entre os organismos mais resistentes da Terra. Portanto, não é de estranhar que as suas capacidade de resistência tenham permitido às microbactérias sobreviver às condições severas da cratera do Chicxulub.
À CNN, Bralower disse: “Isto condiz com o que hoje sabemos sobre as bactérias – elas podem crescer em qualquer lugar”. Mesmo onde não existe oxigénio, como era o caso das algas que se instalaram na cratera.
Por explicar fica ainda a forma como as microbactérias (tanto cianobactérias como outros microrganismos que sobrevivem sem oxigénio) conseguiram em tão pouco tempo adaptar-se aquele ambiente.
Saber como a vida prosperou na cratera enquanto ainda estava quente poderia ajudar os cientistas a entender, por exemplo, como os seres vivos se adaptam hoje às catástrofes, referiu ao New York Times Jason Sylvan, oceanógrafo da Universidade do Texas que não participou no estudo.
É certo que as alterações climáticas elevaram as temperaturas do planeta, acidificaram a água dos oceanos e colocam constantemente em causa a qualidade do ar que todos nós respiramos. Além disso, para a ciência era importante que fosse apurado o comportamento destas comunidades microbianas – que ajudam, entre outras coisas, a controlar a qualidade de oxigénio da atmosfera – para perceber quais as respostas que elas nos poderão fornecer sobre o futuro do planeta, face às alterações climáticas .