Se nos últimos cinco anos foram vários os “progressos” registados em Portugal pela Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI), há ainda várias “questões preocupantes”, lê-se no relatório publicado esta terça-feira pelo Conselho da Europa.
O organismo exorta as autoridades portuguesas a “repensar o “ensino da história e, em particular, a história das ex-colónias”, defendendo a inclusão do “papel que Portugal desempenhou no desenvolvimento e, mais tarde, na abolição da escravatura, assim como a discriminação e a violência cometidas contra os povos indígenas nas ex-colónias”.
“A narrativa da ‘descoberta do novo mundo’ deve ser colocada em questão e a história e contributo dos afrodescendentes, assim como dos ciganos, para a sociedade portuguesa devem ser tratados”, considera a ECRI. “As autoridades deveriam ainda melhorar os manuais escolares seguindo estas linhas de orientação”, conclui, sobre este ponto.
A ECRI analisa a situação em cada um dos Estados membros do Conselho da Europa no que respeita ao racismo e à intolerância e formula sugestões e propostas para o tratamento dos problemas identificados.
No caso português, a comissão destaca, entre outros pontos positivos, que “os comentários racistas, homofóbicos ou transfóbicos pelos políticos são raros e condenados publicamente”, que “muito poucas pessoas ciganas e negras foram vítimas de violência motivada pelo ódio” e que “a grande maioria da população portuguesa pensa que as pessoas LGB devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais”.
No entanto, “há ainda algumas preocupantes”, sublinha o relatório, que aponta o dedo, por exemplo, às medidas “insuficientes” e às sanções “não dissuasoras” para combater o discurso de ódio no país.
A instituição lamenta ainda que não tenham sido reunidas as “inúmeras as acusações graves de violência racista cometida por agentes da polícia”, nem levado a cabo um “inquérito eficaz para determinar se são ou não verdadeiras”.
O abandono escolar das crianças afrodescendentes (três vezes maior), o número cinco vezes inferior de alunos de origem africana na universidade, o desemprego elevado entre adultos afrodescendentes e a segregação resultante dos programas de realojamento são outras das dificuldades apontadas no documento, que classifica também como “profundamente preocupante” a situação das crianças de etnia cigana, com 90% a abandonarem a escola.