O prémio da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa ganharam-no agora, mas o estudo Duration and Degree of Adiposity: Effect on Cardiovascular Risk Factors at Early Adulthood (Duração e Grau da Adiposidade: Efeito nos Fatores de Risco em Jovens Adultos) já começou há 15 anos. Um grupo de quatro investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, de diferentes áreas, pegou numa amostra representativa (2 942) dos estudantes de 13 anos da cidade do Porto e até hoje nunca mais os largou. Neste momento, esses jovens têm 27 anos e continuam a avaliar-lhes o peso, a altura, a pressão arterial e a fazer-lhes análises bioquímicas. E a ideia, haja dinheiro e energia para isso, é segui-los ao longo de toda a vida. Entretanto, já os submeteram ao mesmo tipo de exames aos 17, 21 e 24 anos, para avaliarem a evolução dos níveis de adiposidade e como eles afetam os valores da pressão arterial e da resistência à insulina. Estes dois parâmetros, quando alterados, podem vir a condicionar doenças cardiovasculares mais tarde na vida. Os 20 mil euros do prémio SCML/MSD vão ajudar a dar continuidade a este arrojado projeto.
Para já, os investigadores podem concluir o óbvio: adolescentes com excesso de gordura vão ser adultos com menos saúde cardiovascular, devido ao aumento dos fatores de risco para esse tipo de doenças. Mas, e é aqui que a durabilidade do estudo se torna mais relevante, conseguiram também avaliar como o percurso tem impacto nesse agravamento de saúde. “Claramente, ganha-se ao corrigir os níveis de adiposidade, mas a verdade é que os adolescentes que foram gordos nunca conseguem regressar aos valores ditos normais”, explica Elisabete Ramos, nutricionista, e uma das investigadoras do estudo. Quem perde gordura ao longo da vida melhora, sim, mas a melhoria nunca é total. Logo, torna-se ainda mais importante nunca lidar com excesso de peso em nenhuma fase da vida, porque as consequências não desaparecem com facilidade.