Em declarações ao jornal norte-americano, a atriz Rose McGowan conta que foi contactada em maio por uma mulher que se identificou como “Diana Filip” e disse trabalhar para uma empresa que pretendia levar a cabo uma iniciativa para lutar contra o assédio sexual no local de trabalho. “Diana Filip” ofereceu então 60 mil dólares (cerca de 52 mil euros) à atriz para falar numa gala que marcaria o arranque dessa iniciativa. Afinal, Diana era uma antiga agente da Mossad, os serviços secretos israelitas, e estava agora ao serviço de uma agência de investigadores privados, contratada, segundo o New Yorker, por…. Harvey Weinstein, o homem que McGowan acusa de violação.
A atriz recorda que a sua interlocutora parecia “muito gentil” e que se encontraram várias vezes. Já antes, em janeiro, uma jornalista tinha gravado uma conversa sem permissão, que entregou à mesma empresa de investigadores.
Às mãos do produtor chegou, através de outra empresa, um relatório com mais de 100 páginas com informação sobre McGowan, dividido em secções como “Mentiras/Exageros/Contradições”, “Hipocrisia” ou “Traços de caráter potencialmente negativos”.
Estava em marcha, desde o outono do ano passado, a operação montada por Weinstein para, segundo o jornal, combater as alegações de que tinha assediado ou agredido sexualmente várias mulheres. O objetivo dos investigadores estava, aliás, expresso claramente num dos contratos, assinados em julho: travar a publicação das alegações de abuso, que acabariam por sair no The New York Times no dia 5 de outubro.
Além das duas empresas contratadas, o produtor reuniu ainda uma equipa de antigos colaboradores das suas empresas para recolher nomes e fazer uns telefonemas que algumas fontes ouvidas pelo New Yorker descreveram como “intimidatórios”
Em comunicado, a porta-voz de Weinstrein, Sallie Hofmeister, classifica como “ficção” esta operação agora denunciada.
O primeiro de uma longa série de escândalos em Hollywood
As acusações remontam à década de 1990, altura em que Weinstein estava à frente da produtora Miramax, um estúdio de cinema independente que era propriedade do gigante cinematográfico Walt Disney Co. Do escândalo fazem parte acusações de abusos sexuais por parte da atriz Ashley Judd, conhecida pelo filme “Frida” ou pela saga “Divergente”.
Em 5 de outubro, o New York Times publicou uma investigação, baseada em dezenas de testemunhos de antigos e atuais funcionários da empresa que facultaram detalhes sobre o comportamento do produtor.
Segundo o jornal novaiorquino, Weinstein chegou a acordos extrajudiciais com pelo menos oito mulheres para resolver acusações de assédio sexual.
Num comunicado enviado ao jornal, o produtor admitiu que a forma como se comportou no passado com companheiras de trabalho provocou muitos danos, pelo que pediu perdão e uma segunda oportunidade.
“Apesar de estar a tentar melhorar, sei que tenho um longo caminho a percorrer”, reconheceu no mesmo comunicado Weinstein, garantindo que tenta corrigir a sua forma de atuar há dez anos com recurso a terapia.
Desde que o escândalo envolvendo Weinstein rebentou, os nomes envolvidos em casos semelhantes não param de surgir. Dustin Hoffman é a mais recente estrela de Hollywood a enfrentar acusações de assédio sexual, neste caso a uma assistente que tinha, na altura, 17 anos. O realizador James Toback e o ator Kevin Spacey estão também a braços com casos semelhantes.