
Em 2016, Maria Fernandes passou um mês a fazer voluntariado no campo de refugiados de Calais, no norte de França, perto do túnel ferroviário Eurotúnel, no Canal da Mancha, que une Inglaterra a França. Antes de Calais ser desmantelado, em setembro do ano passado, dava albergue a 10 mil refugiados em tendas, casinhas de madeira, com pontos de água e casas-de-banho. A maioria dos refugiados chega ali com a intenção de conseguir entrar no Reino Unido. Mesmo depois do desmantelamento, as pessoas continuam a ir para esta zona e vivem sem condições, dispersas em mini-florestas.
A experiência de voluntariado levou até a jovem de 23 anos a focar os seus estudos nesta área, dando depois início ao mestrado em Ação Humanitária. Nessa altura, Maria Fernandes constatou que entre toda a roupa doada, muita dela em más condições, faltava sempre meias, boxers, cuecas e soutiens. Alguns voluntários chegaram a fazer meias à mão com os restos das roupas doadas, aproveitando os tecidos mais quentes.
Mesmo depois de deixar Calais para trás, Maria continuou a acompanhar, via redes sociais, as atividades das organizações não governamentais com que trabalhou, a francesa L’Auberge de Migrants e a inglesa Help Refugees e sabe que as meias são dos bens que mais falta continuam a fazer – principalmente para homens, que são 96% da população de refugiados na zona, tamanho 40-43.
Miguel Ferraz, 25 anos e Telmo Soares, 24, juntaram-se à campanha Meia no Pé Para Calais fazendo a parte visual do projeto.
As meias que já foram entregues em 36 pontos de recolha, por todo o País, incluindo em hostels e lojas, precisam agora de ser reunidas para serem levadas para França. Até dia 18 de setembro já havia perto de 1 500 pares de meias. Por isso, a campanha de crowdfunding pretende reunir 1 500 euros para cobrir as despesas de aluguer de uma carrinha, combustível e viagem de ida e volta a Calais. As doações terminam esta sexta-feira, 22, às 18 horas.
Com as temperaturas a arrefecerem, é tempo de arrumar as sandálias e já apetece usar meias. Sempre que se calçar lembre-se que há refugiados em Calais com os pés frios.