Comecemos por cá: se não está no país de Trump nem a assistir à transmissão em direto pela NASA, o interesse em ficar quase uma hora a olhar o céu é relativo. O alinhamento do sol com a lua e o nosso planeta, que acontece a cada 18 meses, será pouco visível em Portugal. Segundo o Observatório Astronómico de Lisboa, a área solar encoberta não irá além dos 22% no Continente (19% em Lisboa). Nos Açores chegará aos 28% e na Madeira aos 33%. Em Lisboa, o início do fenómeno acontece às 19h46m, pouco antes do por do sol, às 20h43m. Saiba mais aqui (http://oal.ul.pt/eclipse-solar-total-de-21-agosto-2017/). Teremos de esperar até 2026 para assistir a um eclipse total dentro de portas.
Vamos então às 7 razões para falar do grande eclipse americano:
1 – POR SER ONDE É
Mesmo sem lá estar, temos presente a célebre frase de campanha “Vamos tornar a América grande outra vez”. Aquela que já foi conhecida pela Terra das Oportunidades está agora com as candeias às avessas e nada melhor que um eclipse total do astro rei para alimentar teorias da conspiração e a indústria do turismo, alavancando os ânimos e a economia. O próximo eclipse atravessar a América será a 8 de abril de 2024, embora o “esplendor da totalidade” não abranja uma tão grande superfície do território americano, do Pacífico ao Atlântico.
2 – O MAIS “DEMOCRÁTICO”
Para os quase 200 milhões de americanos concentrados na “faixa dourada” do território brindada pela sombra andante, a ocasião é histórica: a última vez que o eclipse total percorreu o país foi há 99 anos. Segundo a NASA, a última vez que os americanos assistiram a um eclipse total com esta amplitude geográfica foi a 8 de Junho de 1918, no eixo entre os Estados de Washington e da Flórida. Trata-se de um acontecimento único, excepto para os felizes centenários, que poderão assistir a uma reedição. Ou quase, tendo em conta os conceitos do filósofo Heraclito, de que nenhum eclipse se repete exatamente no mesmo sítio. Desta vez, a sombra da lua vai projetar-se numa faixa circular com 113 km de diâmetro, que percorrerá o país de costa a costa, de Oregon até ao Estado da Carolina do Sul. Uma hora e 33 minutos de “pura emoção”.
3 – DENTRO DE UMA ESTRELA
Desta vez, os ânimos estão focados a experiência Citizen CATE (Continental-America Telescopic Eclipse), que envolve também o público, com a participação de voluntários de escolas e laboratórios americanos. Durante 90 minutos vai ser possível, pela primeira vez, captar imagens dos bordos do plasma solar (cromosfera) e da sua dinâmica, através de 60 telescópios equipados com câmaras digitais. A NASA vai medir as ondas de rádio de baixa frequência e ver se difere do que acontece em condições normais.
4 – RELATIVIDADE EM EXAME
Em 1919, astrónomo britânico Arthur Eddington viajou até ao continente africano para testar a previsão da teoria geral da relatividade, apresentada por Albert Einstein, três anos antes, e confirmou: a massa gravítica podia desviar o curso da luz emitida pelas estrelas. Agora, o cientista Don Bruns espera ser o primeiro a medir os desvios nas posições aparente e real das estrelas, de acordo com um princípio simples: encoberto na totalidade pela lua, o sol ficará totalmente escuro, criando as condições para testar a teoria a partir da Terra.
5 – IMPACTO NO MUNDO FÍSICO
“Os animais tendem a recolher porque associam estas alterações ao crepúsculo”, explica a astrónoma Suzana Ferreira, do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL). As propriedades agrícolas abundam na América, sendo tradição monitorizar as reacções das aves e do gado e saber sobre padrões de resposta animais face às mudanças drásticas de luz, temperatura e vento. Mas também do mar. “A força gravítica sobre a Terra aumenta e as marés podem ser mais fortes”, afirma o astrofísico Ismael Tereno, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, da Faculdade de Ciências da universidade de Lisboa.
6 – O FIM DOS MITOS
Por mais estudados que sejam, há fenómenos naturais que despertam medos e fantasias ancestrais acerca do desconhecido, sendo terreno fértil para produzir ficção e criar muito agito. Com os estudos feitos até agora, ficamos a saber que a observação direta não causa cegueira mas pode trazer danos à retina. E que a radiação do anel solar não afeta a gravidez nem a qualidade dos alimento, como acreditavam os nossos antepassados. Que dizer, ainda, das profecias que se auto realizam? É humano lembrar-se de um eclipse que coincidiu com um evento histórico: basta que seja menos bom para se criar sincretismos como “gato preto = azar”. As previsões previsões astrológicas, admitem os cientistas, caem nesta categoria.
7 – A QUEDA DE UM “ASTRO”?
É tentador afirmar que o destino de Donald Trump está escrito nas estrelas. Basta ver a quantidade de análises astrológicas sobre o impacto do evento na vida do presidente, que é tão ou mais espetacular para os americanos do que o próprio eclipse. Ter o ascendente em Leão, signo do Zodíaco associado à liderança, pode ser um “mau presságio” para Trump. “O sol representa o líder e a lua simboliza o cidadão comum. A lua bloqueia o sol e ‘as luzes da ribalta apagam-se’” Palavras da astróloga Debra DeLeo-Moolenaar, que previu o resultado das eleições no Reino Unido e do Brexit, ao site da Newsweek. Resta esperar para ver. Ou encontrar aqui um bom pretexto para voltar a ouvir Pink Floyd e o atualíssimo The Dark Side of the Moon.