Abre-se a Wikipedia para mais uma consulta e eis que nos salta um pop up, assinado pelo seu criador, Jimmy Wales, a pedir dinheiro. Nele explica-se, e bem, como aquela enciclopédia digital funciona, através da Fundação Wikimedia – uma organização não lucrativa que fornece conteúdos gratuitos na internet. E como, ao optar por não ter publicidade nas suas páginas, garantindo assim a independência de conteúdos, tem de se financiar nos seus utilizadores. “Se todos os que estão a ler esta mensagem neste momento dessem dois euros, a nossa angariação de fundos terminaria dentro de uma hora.” Mas é preciso mais latim para pedir, que não estamos acostumados a isto.
“Somos uma pequena organização sem fins lucrativos com os custos de um website de topo: servidores, colaboradores e programas. Acreditamos que todas as pessoas devem ter acesso ao conhecimento – gratuitamente, sem restrições, sem limites. Se a Wikipedia lhe é útil, por favor tire um minuto para mantê-la online e a crescer. Obrigada.”
Todos os meses 500 milhões de pessoas visitam a Wikipedia, um domínio alimentado por uma comunidade que se voluntaria para compartilhar informações com o mundo. Mas apenas cerca de 45 mil utilizadores contribuem monetariamente para que ela continue a sobreviver sem publicidade.
Mas nem por isso se podem queixar, porque, por exemplo, quando completaram 10 anos, em 2011, angariaram 12 milhões de euros em apenas oito semanas. Só que a Europa é menos contributiva: Em 2015 doou cerca de 20.4 milhões de euros, menos de metade do total angariado no mundo (mais de 51 milhões de euros).
Quando o donativo é feito, a conversa continua por mail, em termos mais filosóficos: “Nós acreditamos que o conhecimento é um direito humano fundamental. Conforme a humanidade entra no futuro digital, necessitamos espaços abertos, acessíveis, públicos para aceder ao conhecimento online. A Wikipedia fornece conhecimento livre a pessoas, por pessoas, em centenas de idiomas em redor do planeta.”
Estes pedidos não são de hoje. Volta a meia, e de acordo com as suas necessidades do momento, a fundação cola-os junto à pesquisa, abrindo ao lado espaço para se efetivar diretamente o contributo. Mas lá por surgir no seu computador, não quer dizer que apareça em todos.
Sem pruridos
O decréscimo de leitores e a consequente baixa dos preços da publicidade na Imprensa fez com que o conceituado The Guardian tenha seguido uma estratégia idêntica à enciclopédia online. Quando se chega ao final de um artigo no website do jornal britânico, aparece a seguinte mensagem, que pretende tocar os corações dos seus leitores:
“Já que está aqui… vamos pedir-lhe um pequeno favor. Há mais pessoas a ler o The Guardian que nunca, mas as receitas da publicidade nos media estão a cair muito rápido. E ao contrário de outras empresas de notícias, não optámos por conteúdos pagos – queremos manter o nosso jornalismo o mais aberto possível. Por isso, percebe porque precisamos de lhe pedir ajuda. O jornalismo de investigação independente do The Guardian requer muito tempo, dinheiro e trabalho árduo para o produzir. Mas nós fazêmo-lo porque acreditamos que a nossa perspetiva importa – porque pode ser a sua perspetiva também. Se cada um dos nossos leitores ajudar a suportar isto, o nosso futuro será muito mais seguro.”
E depois lá se abre caminho para a contribuição, com o valor que se achar justo. Ao donativo, o jornal retribui com um email simpático, em que se reafirmam os valores da independência e liberdade de expressão. Nós por aqui assinamos por baixo.