Em pouco mais de trinta anos, a sida passou de doença fatal, a doença crónica, em que os seropositivos tratados têm uma esperança de vida equivalente à de uma pessoa sem a infeção. Daí que a Onusida – organismo das Nações Unidas responsável pelo tema – e a Organização Mundial de Saúde tenham lançado o objetivo designado como 90-90-90, para atingir em 2020: 90% dos doentes diagnosticados, 90% dos doentes em tratamento e 90% dos doentes com carga viral indetetável.
Ora, Portugal atingiu o primeiro 90, com uma taxa de 90,3% de pessoas infetadas diagnosticadas, mas continuam a existir falhas no tratamento, o que põe em risco a vida do doente mas não só. Um indivíduo não tratado pode vir a contaminar outros, se mantiver relações sexuais não protegidas. De acordo com os dados da Direção-Geral da Saúde, apenas 78,4% dos doentes diagnosticados apresenta os níveis de infeção controlados. Este objetivo é essencial em termos de saúde pública, já que enquanto nos doentes com carga viral indetectável, que se consegue com a terapia, o risco de contágio se reduz praticamente a zero.
Num estudo da responsabilidade do investigador da Escola Nacional de Saúde Pública, Julian Perelman, e apresentado quinta-feira, 22, apontam-se as principais razões para a falha bem como soluções para que estes doentes não se percam.
Apesar de o tratamento para o VIH ser gratuito em Portugal, as dificuldades financeiras continuam a limitar o acesso, já que o doente precisa de se deslocar a uma unidade de saúde para levantar os medicamentos. O estigma que ainda existe em torno da doença também continua a afastar os doentes dos cuidados de saúde, receando vir a ser descobertos pelos familiares ou conhecidos. Outro obstáculo identificado foi a falta de informação ou de recursos humanos.
Daí que uma das medidas para manter os seropositivos em tratamento seja a criação da figura do gestor do caso – um profissional que acompanhe o doente desde o momento do teste até ao ponto em que a carga viral se torna indetectável. Horários alargados de consultas e da farmácia hospitalar, para dispensa da medicação, são outras das soluções propostas, bem como a possibilidade de levantar os medicamentos longe da área de residência (para quem não quiser ser visto pelo vizinho a levantar o anti-viral) ou as consultas por telefone.
Na mesma sessão foi ainda apresentado um estudo da responsabilidade do médico António Diniz, ex-diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA, da Direção-Geral da Saúde, em que se fala de um 4º 90, a qualidade de vida e o bem-estar psico.social, que deve também passar a ser um objetivo, defende-se.