Desde domingo de manhã que os portugueses se têm mobilizado para tentar acalmar a dor de quem perdeu tudo nos incêndios ou de quem continua a combatê-los. Sem nunca descurar o apoio aos animais afetados, porque o foram de várias maneiras. Porque ficaram sem donos e precisam de nova casa, porque ficaram feridos nas chamas ou intoxicados pelo fumo, porque não encontram o que comer.
A vaga de solidariedade manifesta-se através de apelos nas redes sociais, recolhas de bens essenciais, consultas gratuitas em clínicas, visitas de especialistas e até de um crowdfunding muito bem sucedido.
Por exemplo, a clínica Vet Figueiró, de Figueiró dos Vinhos, apressou-se a abrir as portas para prestar auxílio aos animais que necessitassem de cuidados mais diferenciados. Em sintonia com os veterinários municipais de Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, que andam no terreno, e também através de apelos à população, já receberam cerca de 30 cães e gatos. Neste momento, ainda lá estão cinco internados, em situações mais graves. Os que tinham problemas respiratórios ou queimaduras menos extensas já voltaram para os seus donos ou as suas novas famílias. Hélder Valente, um dos veterinários da clínica, sabe que “a maioria acabou por morrer nos incêndios”. Os tratamentos são a custo zero, mas, diz, têm contado com o auxílio de farmácias, da Ordem dos Médicos Veterinários e de particulares que fazem donativos de material médico indispensável.
Quanto aos animais de quinta, os que não morreram nas chamas estão agora com um problema de escassez de pasto, que ardeu todo; o mesmo aconteceu aos armazéns onde os seus donos guardavam as munições para os dias mais quentes. “Os próximos meses vão ser muito exigentes, porque as pastagens só começarão a ser nutritivas lá para a Primavera”, explica Hélder Valente.
É por isso que todos querem ajudar. Mas, como o fluxo de chamadas estava a exceder as possibilidades de resposta em tempo útil, a Linha Saúde Animal 24 publicou, na sua página do Facebook, algumas informações importantes, como os locais em maior dificuldade (Pampilhosa da Serra e Sertã), as necessidades de alimento, os sítios para onde enviar a comida (Santa Casa da Misericórdia e corporações de bombeiros).
A revista Cães&Companhia divulgou quais os medicamentos que se podem entregar para ajudar a tratar os animais feridos – compressas, ligaduras, cremes gordos, vaselina, soro fisiológico, colírio, rolo ortopédico de algodão, clorexidina, Biafine ou Caladryl. E avisa que também a Cooperativa Agro-Pecuária do Sudoeste Beirão (Casan) disponibiliza alimentos, rações e fenos aos produtores que deles necessitem.
Em três dias, o crowdfunding (gofundme.com/portugal-wildfire-animals) da Petable, com o beneplácito da Ordem dos Médicos Veterinários, reuniu mais de 9 mil euros, oferecidos por 423 pessoas. Neste momento, já não aceitam mais donativos.
Mas Sónia Silva, geógrafa da Câmara Municipal de Lisboa, ainda está a angariar tudo o que conseguir para enviar na próxima quarta-feira, 28, num camião dos Bombeiros Voluntários de Lisboa. Foram estes que primeiro deram a mão à iniciativa que nasceu enquanto Sónia via as notícias desoladoras vindas de Pedrógão Grande. “Como sei que, nestas situações, os animais tendem a ficar para segundo plano, desafiei as minhas colegas para organizarmos uma recolha de bens que precisassem”, conta. Depois, arranjaram uma sala no edifício da Câmara no Campo Grande para guardarem as rações e os produtos de farmácia, e espalharam palavra e posters por onde puderam. Três dias depois, o resultado não é mau, mas “podia ser melhor” (se quiser ajudar ligue para o número 21 817 20 36).
Quando conseguir mandar tudo para o terreno, a geógrafa vai dedicar-se a descobrir como pode acondicionar e transportar fardos de palha, porque já tem quem os ofereça. E a bondade não pode ser desperdiçada.