Não tem cor, não tem cheiro e não se move, mas é, segundo a Organização Mundial de Saúde, a segunda principal causa de cancro do pulmão em muitos países. Quem se expõe ao radão, mesmo que seja a uma concentração relativamente baixa, vê a probabilidade de vir a desenvolver este tipo de cancro aumentar numa proporção de 16 por cento por 100 becquerel por metro cúbico – a unidade de medida utilizada para medir este gás.
Cerca de nove por cento das mortes por cancro do pulmão estão relacionadas com o radão, de acordo com um estudo de 2005 – na Europa é responsável por 2% das mortes. Perante esse ‘assassino silencioso’, Bruxelas aprovou uma diretiva que estabelece, pela primeira vez, normas de segurança e de proteção contra os perigos da exposição a este gás radioativo e que deverá entrar em vigor em todos os estados-membros a partir do próximo ano. Dentro dos requisitos, é exigida a realização de medições nos locais de trabalho posicionados em zonas de risco, de forma a que seja atenuada a concentração de radão nos edifícios que excedam o valor de referência de 300 becquerel por metro cúbico.
Em Portugal, os distritos de Viseu e da Guarda são os mais afetados, com as médias mais elevadas de concentração deste gás – 126 Bq/m3 e 121 Bq/m3, respetivamente. Embora estes valores estejam abaixo da referência estipulada pela UE, 2,6 por cento do território nacional apresenta concentrações acima de 400 Bq/m3, uma situação que terá de ser regularizada no próximo ano.
A VISÃO contactou o Ministério da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que não se entendem sobre a tutela desta legislação. Aqui ao lado, em Espanha, o Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho para redigir um plano público contra o radão “em casas, edifícios públicos e escritórios”, de acordo com o El País. Ao longo deste ano, Madrid quer introduzir no Código Técnico para a Edificação exigências de proteção inclusivamente nos edifícios residenciais.
O modelo a seguir, continua o jornal, é o irlandês. Entre 2000 e 2005, foram realizadas milhares de medições, de forma a conhecer ao pormenor as concentrações de radão na Irlanda. Cinco anos depois, três empresários da construção foram condenados a penas de prisão, por não cumprirem as recomendações estipuladas. No Reino Unido os níveis deste gás chegam a influenciar o valor das casas.
A baliza europeia nos 300 Bq/m3 já é considerada conservadora, por exemplo, pela Organização Mundial de Saúde que aponta, idealmente, para os 100 Bq/m3. Os especialistas do Laboratório de Radão da Galiza, contactados pelo El País, concordam que o valor da União Europeia é insuficiente e salientam que nos EUA, o nível estabelecido é de 148 Bq/m3.

Mapa das concentrações em Portugal continental, em Bq/m3
Como proteger-se do radão
No mapa disponibilizado pelo Instituto Superior Técnico, podem ver-se as regiões portuguesas de maior risco. Para além de Viseu e da Guarda, os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Castelo Branco também apresentam algumas zonas com concentrações excessivas.
Estas áreas de risco são também, coincidentemente, regiões graníticas. Aliás, quanto mais granítica é uma região, “maior é o potencial para a libertação do radão para a atmosfera e para a ocorrência de concentrações elevadas deste gás”, refere Mário Ribeiro, físico do Laboratório de Proteção e Segurança Radiológica do Instituto Superior Técnico. Esta relação dá-se, explica, pelo facto de o radão pertencer à série radioativa natural do urânio que é, por sua vez, um constituinte natural do granito.
Para quem vive em zonas de risco ou quer, simplesmente, ter a certeza de que não está a ser exposto, de forma perigosa, ao radão, existem alguns procedimentos a ter em conta. Ainda na fase de pré-construção, o especialista do Instituto Superior Técnico diz que é importante, por exemplo, utilizar-se, ao nível do pavimento, “matérias que funcionem como barreira à difusão” do gás. Se as construções já existirem, “a forma mais eficaz de reduzir as concentrações de radão no interior é promover a ventilação desses espaços e a renovação do ar”, acrescenta.
Além disso, Mário Ribeiro aconselha a medição da concentração deste gás no interior de habitações ou locais de trabalho – isto é, em ambientes confinados –, localizados em regiões graníticas. Tanto o Laboratório de Proteção e Segurança Radiológica do Instituto Superior Técnico, como empresas privadas disponibilizam este serviço.