Os casos preocupam os educadores, a academia, os profissionais de saúde e o Governo. Os dados disponíveis sobre violência no namoro “estão a reproduzir estereótipos de maneira assustadora”, alerta Celina Manita, do Gabinete de Estudos e Atendimento a Agressores e Vítimas da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Assiste-se, segundo ela, a uma “legitimação da agressão por parte de casais jovens, pois consideram que a violência é uma boa maneira de resolver conflitos”.
O fenómeno também entra pelo consultório da psicóloga clínica Mónica Botelho: “Apareceu aqui um miúdo que mandava mais de 250 sms´s à namorada por dia”. A obsessão pelo controlo multiplica-se em mensagens: onde estás, o que fazes, vi-te passar, quem é aquele. “E há muitos estalos e empurrões de parte a parte”.
A secretária de Estado da Igualdade e Cidadania também já fez soar as campainhas e avançaram campanhas destinadas a enfrentar o problema na população estudantil, incluindo nas universidades: “A ideia é ser o próprio sistema de ensino a promover a educação para a cidadania: direitos humanos, não-violência e interculturalidade”, propõe Catarina Marcelino.
Também a VISÃO lançou, há meses, a sua própria campanha sobre o assunto (veja aqui o vídeo). Segundo um estudo da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) envolvendo 2500 inquiridos, os jovens têm fraca perceção do que são situações de violência e 22% considera “normal” agressões no namoro.
Todos iguais?
Quando iniciaram o estudo sobre homens vítimas de violência na intimidade – que divulgamos na edição que foi para as bancas esta semana – Andreia Machado e Marlene Matos, do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, fizeram ações de prevenção nas escolas sobre maus-tratos no namoro. “Os estudos dizem que a violência entre namorados é simétrica, sobretudo ao nível das humilhações e insultos. Por isso, falámos sempre com turmas mistas, caso contrário a mensagem não passava”, justificam. Para as investigadoras, a opção por abordagens inclusivas, sem distinção de género, foi óbvia: ”Se fôssemos para as escolas falar só de raparigas, e com as raparigas, não teríamos rapazes tão envolvidos como tivemos. Por isso, também pusemos os homens na agenda como alvo de violência doméstica, uma realidade que já salta à vista na escola”, explicam.
Para a psicóloga Mónica Botelho, o caminho é estreito. “Há muitíssimos casos de violência entre jovens namorados e pouco valorizados. O padrão de comportamentos que tenho encontrado é muito semelhante, sem distinção de género: são ambos vítimas e agressores”, alerta, desafiando a que se encontrem as causas…em casa. “O distanciamento dos pais em relação aos filhos é preocupante, as crianças estão muitas vezes entregues a si próprias. Temos uma sociedade extremamente competitiva, em que os miúdos estudam para ter as melhores notas, para pertencer aos quadros de honra, para irem para a escola que está no ranking. Esta competição não é saudável e vai reproduzir-se nas relações pessoais e sociais que eles tiverem. Se calhar vamos ter adultos mais agressivos”. Segundo Celina Manita, do GEAV, “é um retrocesso cultural e isto assusta um bocado. Faz-nos pensar que vamos continuar a ter taxas elevadas de violência doméstica”, conclui.