O pessimismo nacional tem sido fortemente abalado pelos ecos entusiásticos sobre Portugal que chegam vindos do lado de lá da fronteira. Já não nos surpreende que tenhamos as praias mais belas, as melhores cidades para a reforma ou uma vida noturna ímpar. Este poder de atração levou muitos estrangeiros a passarem da teoria à prática, mudando-se (ou passando temporadas) por cá.
Christian Louboutin, criador dos desejados sapatos da sola vermelha, encontrou-se com a VISÃO, em Lisboa (onde também tem casa), escassas horas antes de partir para o seu refúgio no Alentejo e confessou não compreender muito bem esta “excitação recente relativamente a Lisboa” porque sempre adorou a cidade. O designer francês tem contribuído para mostrar Portugal ao mundo através dos eventos de projeção internacional que aqui tem organizado (ver entrevista).
O residente mais mediático de Lisboa do momento é o ex-futebolista francês Eric Cantona. Aos 50 anos, “Eric, o Rei” – é esta a sua alcunha preferida –, faz vida de bairro entre o Rato, onde vive, e Campo de Ourique. O histórico do Manchester United também está inscrito num ginásio lisboeta para não perder a forma. Ao jornal britânico The Guardian, confessou não poder estar mais feliz com a vida em Lisboa. “Sinto-me vivo”, afirmou. Quem o ajudou a arrendar a casa foi uma imobiliária, confidencia à VISÃO Francisco Quintela, 42 anos, cofundador da empresa que fez o negócio. “Temos um escritório ao lado do Hotel Ritz, em Lisboa, o Cantona passou e entrou. Como uma das nossas mediadoras fala francês, a transação foi mais fácil”, revela, sem adiantar pormenores. Na verdade, o ex-futebolista mudou-se para Lisboa há três anos, mas a discrição deste tipo de processos fez com que o rumor da mudança de morada só se confirmasse na entrevista ao jornal britânico. “Chega a haver acordos de confidencialidade para que o nome da pessoa que está a comprar a casa não seja revelado”, explica Francisco Quintela.
Viver em Lisboa foi um dos motivos que levou Cantona a torcer pela seleção portuguesa de futebol durante o Campeonato Europeu deste ano. Estava no sítio certo para se juntar aos festejos, afirmou. Aliás, o Marquês de Pombal, em Lisboa, contou com convidados de luxo para celebrar o título de campeões europeus. A atriz americana Julia Louis-Dreyfus (a Elaine da série Seinfeld), estava de passagem pela capital e não hesitou em juntar-se aos festejos. Também os atores Harrison Ford e Calista Flockhart participaram na euforia. O casal estava em Portugal a passar uma segunda lua de mel dedicada aos encantos da Península Ibérica.
Portugal cinematográfico
O realizador francês Joël Santoni, 72 anos, vive na Ajuda, em Lisboa, há dois anos. Atualmente, está a filmar na capital portuguesa mais uma temporada da mítica série de televisão francesa Une famille formidable, no ar há quase 25 anos. “Na verdade, foram as filmagens que me trouxeram aqui e não o contrário”, conta o realizador, antes de começar a rodagem de uma cena no Largo de São Paulo, no Cais do Sodré. Comprar uma casa e passar mais tempo a filmar em Lisboa pareceu-lhe natural. “Quando estou aqui sinto-me em casa”, afirma, satisfeito com a “cidade trendy” que escolheu para viver. A língua é a sua principal dificuldade, apesar de falar fluentemente espanhol e italiano, mas a barreira linguística não o impede de eleger Alfredo Marceneiro como um dos seus cantores favoritos.
Tal como muitos franceses que procuram Portugal, Joël Santoni beneficia do estatuto de residente não habitual, que lhe garante a inexistência de dupla tributação da pensão e uma taxa fixa de IRS de 20% durante dez anos. A Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa estima que no final do ano passado viviam em Portugal cerca de 20 mil franceses como residentes fiscais nacionais. Aos benefícios fiscais, Joël Santoni chama-lhes “a canela em cima do pastel do nata”, a provar que conhece bem as delícias locais – e indo ao encontro do sonho do ex-ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, acérrimo defensor do potencial do Pastel de Nata no mercado estrangeiro…
Ainda no cinema, Portugal tem um admirador incondicional no ator americano John Malkovich, incapaz de decidir se gosta mais de Lisboa ou do Porto. No entanto, é na capital que é sócio da discoteca Lux e do restaurante Bica do Sapato. Há dois anos, ao Expresso, o ator confessava já ter discutido com a família a hipótese de se mudarem do Sul de França para Portugal. Afinal, de acordo com o prestigiado designer francês Philippe Starck, a residir em Cascais há vários anos, “Portugal é o melhor sítio da Europa para se estar por causa dos portugueses”, afirmou numa rara entrevista à Vogue portuguesa.
Será demasiado provinciano que a autoestima nacional saia reforçada quando David Beckham revela nas redes sociais que o seu barbeiro preferido é em Lisboa? Ou ver-nos pelos olhos dos outros pode ser uma boa terapia coletiva de autoconhecimento? O agente europeu da banda irlandesa U2, o britânico John Giddings, 63 anos, confessa não nos poder ajudar nesta caminhada de autoanálise, já que não consegue pensar “em nada que deva ser melhorado” – talvez não passe cá tempo suficiente… O homem que também trouxe os Rolling Stones, Madonna ou David Bowie para tocarem em Portugal está de regresso à Quinta do Lago, no Algarve, pela terceira vez este ano. Entre os seus amigos, vários têm casa em Portugal. Giddings está a pensar fazer o mesmo para deixar de alugar uma villa sempre que fica no Algarve, “uma região com muito mais classe do que Benidorm ou Alicante (Espanha)”, afirma à VISÃO. A atração dos britânicos pelo Algarve não é nova. A cantora Bonnie Tyler tem casa em Albufeira há mais de três décadas, assim como o seu compatriota Sir Cliff Richard, que este ano pôs à venda a quinta onde é produzido o seu vinho, na Guia, por €8,7 milhões. Apesar da reserva quanto aos nomes da música que com ele frequentam o Algarve, John Giddings revela que o cantor e produtor musical Pharrel Williams é fã de Portugal. Um país muito… “Happy” (feliz), como canta no seu tema de maior sucesso.
O povo português à lupa
A felicidade pode não rimar com a canção nacional, mas combina com a simpatia que os estrangeiros invariavelmente reconhecem aos portugueses. “Se não fosse pelas pessoas, provavelmente não me teria mudado para cá”, garante Christian Haas, 51 anos, designer alemão que já trabalhou com marcas de renome como Villeroy & Boch ou Christofle. Nos seus planos está uma colaboração com a portuguesa Vista Alegre.Trocou Paris pelo Porto há um ano e meio. “Senti imediatamente que a cidade tinha alguma coisa especial”, conta, reconhecendo que tem “muita sorte” por ter uma profissão em que não importa a cidade onde vive, “desde que tenha internet e um aeroporto por perto”. Já foi tendo tempo de forjar uma opinião sobre os portugueses, um povo que “tenta ajudar mesmo que não faça à mínima ideia do que fazer”. No mesmo edifício na Rua do Almada instalou a sua casa, o atelier e um restaurante. Durante as obras, o seu principal problema foi o respeito (ou a falta dele) pelos horários, fator essencial da sua disciplina germânica. “Os pintores agendavam para as 7h30 da manhã, mas depois não apareciam nem diziam nada”. O relaxamento, chamemos-lhe assim, dos portugueses com os horários foi uma das críticas que Enrique Pinto-Coelho, 43 anos, mais ouviu durante as entrevistas para o livro Portugal das Maravilhas (Marcador, 2016), que traça um retrato do País através dos olhos de estrangeiros. “Muitas vezes, a incapacidade dos portugueses para dizerem ‘não’ faz com que falhem compromissos”, explica o jornalista luso-espanhol. Mas a perspetiva é variável “consoante o país de origem do observador”. Se para um romeno Portugal é um exemplo de combate à corrupção, no caso de um britânico já não será tanto assim…
Christian Haas ficou surpreendido por em Portugal não ter de pagar adiantado e, aproveitando que a Comissão Europeia não nos ouve, aconselha os portugueses a aumentarem o preço da sua mão de obra. A economia alemã até pode estar (bem) melhor do que a portuguesa, mas os germânicos também têm a aprender com os portugueses: “No geral, acho que aqui as pessoas são mais felizes”. Embrulha, Merkel. Está fascinado com os almoços prolongados dos portugueses e admite que o seu consumo de vinho e café triplicou. O café português passou a ser, precisamente, das coisas que Lucy Pepper, 46 anos, mais tem saudades sempre que vai a Inglaterra. Há 25 anos a viver em Portugal, é praticamente uma nativa (foi a única estrangeira a fazer questão de conversar com a VISÃO em português). Ilustradora e escritora, tem em Portugal um dos principais temas da sua obra. Se inicialmente foi um choque deparar-se com um pouco elegante prato de feijoada ou de cozido à portuguesa, confecionados pela sogra portuguesa, hoje é apaixonada pela gastronomia nacional. O livro Eat Portugal (Lua de Papel, 2015), do qual é coautora, mostra isso mesmo, mas já há outro a caminho, com o título sugestivo Como Não Morrer de Fome em Portugal (Penguin Random House Portugal), sobre as suas experiências em Portugal, também contadas através da comida. Na sua coluna de opinião no jornal digital Observador, Lucy traça muitas vezes retratos acutilantes dos portugueses e da cidade onde vive: Lisboa. Seja ridicularizando a mania dos títulos académicos, o excesso de formalidade ou a falta de civismo… Confessa que, muitas vezes, o que escreve tem um propósito: “picar” os portugueses. “Gosto tanto de Portugal que quero vê-lo florescer”, declara a mulher que até já diz “se Deus quiser”. Move-se num terreno minado porque “os portugueses podem gozar consigo próprios, mas os estrangeiros não”.
Na crista da onda
A viver no centro histórico de Sintra, o americano Peter Cooper, 51 anos, tem assistido na fila da frente à loucura dos turistas por Portugal. Quando decidiu deixar Nova Iorque para trás foi a mulher, portuguesa a residir nos EUA, quem o tentou demover. Sem sucesso. O editor discográfico, que já trabalhou com bandas como os Pixies, atualmente é responsável pelos mercados da Península Ibérica e da América Latina da editora Pias, o que torna a sua localização geográfica ideal. “Os portugueses sabem aproveitar melhor a vida do que os nova-iorquinos”, diz-nos. Um exemplo: “Adoro o conceito de fazer ponte!”, anuncia. O mais complicado na adaptação à dinâmica de Portugal, onde já nasceram três dos seus quatro filhos (com idades entre os 10 e os 21 anos), foi a lenta e complicada burocracia. “Nos EUA se eu esperar duas horas numa fila sei que o meu problema vai ficar resolvido, aqui não é tanto assim…”, lamenta. A sua paixão por Sintra, que também encantou a atriz brasileira Giovanna Antonelli no início deste ano, não se deve só às belas paisagens… “Sintra é um paraíso para correr”, garante Peter, que chegou a ter uma página no Facebook em que convidava os turistas a correrem consigo. Conhece vários músicos que ao longo dos anos se foram apaixonando por Portugal. O vocalista da banda indie belga dEUS, Tom Barman, seu amigo, tem uma casa em Sesimbra, enquanto o líder dos britânicos Deep Purple, Ian Gillan é habitué do Algarve. Mas há mais. Vários elementos dos Radiohead passam férias no Algarve e na Madeira. E, claro, o canadiano Bryan Adams tem uma relação especial com o País por cá ter passado a infância. Já o músico Noah Lennox, vocalista dos Animal Collective e líder do projeto Panda Bear, trocou os EUA por Portugal há vários anos e estabeleceu-se em Lisboa. Também o casal de músicos brasileiros Marcelo Camelo e Mallu Magalhães se fixou na capital, em Campo de Ourique. “Acho interessante e divertido viver as estações do ano de forma tão demarcada, curtir os dias de inverno na lareira e os longos dias de verão num gramado ou na praia”, conta à VISÃO Mallu Magalhães, 23 anos, que também integrou o projeto musical luso-brasileiro Banda do Mar. “Obviamente” que gosta muito da gastronomia portuguesa, mas “comer caracóis é um pouco estranho”…
A personalidade de um país também está refletida nos seus ditados populares. Por cá, diz-se que é pelo estômago que se conquistam as pessoas. O surfista americano Garrett McNamara, 49 anos, não tem dúvidas sobre isso. “Onde quer que eu vá a comida da Celeste está sempre na minha cabeça”, confessa o atleta no areal da Praia Grande, em Sintra, referindo-se ao restaurante A Celeste, na Nazaré, onde encontrou uma segunda família. “Dos laços mais fortes que tenho na vida são com as pessoas que conheci em Portugal”, revela o homem que há cinco anos surfou a maior onda do mundo – com quase 24 metros – na Praia do Norte, Nazaré (em 2013 bateu o seu próprio recorde com uma onda de 30 metros). McNamara acredita que o surf ajudou a pôr Portugal na “crista da onda”: “O recorde da maior onda alguma vez surfada passou na CNN e na BBC três anos seguidos. Portugal teve publicidade no valor de milhões de dólares e tornou-se no destino número um da Europa por causa disso”.
A economista Vera Gouveia Barros, 36 anos, não descarta o poder do “canhão da Nazaré” que “deu uma grande projeção a Portugal e colocou o País no mapa do surf mundial”. Garrett McNamara fala como um verdadeiro embaixador das ondas portuguesas: “A promoção que temos feito atrai muitas pessoas e é muito importante para o País. É o caminho mais rápido para a economia crescer”, afirma. Cada vez mais a sua vida divide-se entre o Havai e a Nazaré, mas ainda não tem casa cá. A mulher e o filho também partilham a sua paixão pelo país e, sobretudo, pelos amigos que têm feito. Este ano, anteciparam a festa do segundo aniversário do filho para celebrarem com a “família da Nazaré”. Mas o pequeno Barrel McNamara dá algum trabalho aos pais quando estão em Portugal… “Se vê embalagens no areal das praias começa a gritar para as irmos apanhar e pôr no lixo. É um trabalho duro!”, revela o surfista com a simpatia habitual. Quanto aos motivos para Portugal atrair cada vez mais figuras internacionais, McNamara destaca dois fatores: “É seguro e barato”. Mas será o preço assim tão importante para este nicho de mercado? “Quem tem dinheiro procura boas oportunidades de negócio. Mesmo os mais ricos não gostam de gastar demasiado. Já conheci muitos milionários forretas!”, garante o surfista.
O poder das redes sociais
O pintor Jason Martin, 45 anos, representado pela ilustre galeria londrina Lisson Gallery, pediu ao arquiteto Souto Moura para desenhar o seu estúdio e adega, nas Fontainhas do Mar, perto de Melides, um pouco mais afastado da agitação da Comporta. De acordo com o britânico, há mais um motivo importante no jogo de sedução entre as figuras públicas estrangeiras e Portugal: “Por enquanto, a sociedade portuguesa não é focada na cultura da celebridade”, acredita o artista. O presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, 46 anos, dá-lhe razão. “É uma questão de respeito não invadir a vida destas ‘estrelas’, aqui não são bombardeadas com fotógrafos. Portugal oferece-lhes espaço”, propagandeia. Talvez seja por isso que o casal Nicholas Sarkozy e Carla Bruni conseguiu passar férias incógnito na Comporta. Charlotte Casiraghi, filha da princesa Carolina do Mónaco, também é uma presença habitual na região, apesar de praticamente não haver registos da sua passagem. Charlotte é afilhada de Albina du Boisrouvray (prima do príncipe Rainier do Mónaco), que passa a maior parte do ano na Comporta. Há algumas semanas também Eric Cantona foi descobrir “o último tesouro escondido da Europa”, como lhe chama a imprensa francesa. Já Christian Louboutin, não inclui a Comporta no Alentejo que lhe interessa e usa palavras duras para classificar o trabalho da Herdade da Comporta (ver entrevista). Jason Martin garante que se há um adjetivo que assenta bem a esta sua “qualidade de vida rural” é… “Despretensioso”. “Aqui ninguém vem para fazer contactos, não há show-off, as pessoas vêm para descontrair”.
Quem se apaixonou pelas praias portuguesas foi a atriz brasileira Luana Piovani, que em maio deste ano passou férias com o marido em Lisboa e no Algarve. E, claro, fez questão de o partilhar nas redes sociais (incluindo a multa por excesso de velocidade que tiveram de pagar…). Nos dias de conexão permanente que vivemos hoje, o efeito das partilhas nas redes sociais está longe de ser irrelevante. “A opinião positiva das pessoas que nos visitam é a melhor publicidade que podemos ter. Ao partilharem o que gostaram põem Portugal no radar enquanto destino que vale a pena conhecer”, explica a economista Vera Gouveia Barros. E se quem partilhar for uma figura pública… “O efeito multiplicador é maior porque essas pessoas ditam tendências”.
Quando David Beckham felicitou Portugal pelo título europeu de futebol e, ao mesmo tempo, convidou os seus seguidores a visitarem o País, o turismo nacional não só ganhou o dia, como provavelmente ganhou milhões. O presidente do Turismo de Portugal admite o “enorme poder” do apelo lançado pelo ex-futebolista. “Os testemunhos indiretos funcionam como provas de confiança e valem mais do que muitas campanhas”, afirma.
Também lojas, restaurantes e marcas portuguesas sentem o impacto de serem associadas a artistas com projeção planetária. Há quatro anos, Manuela Murça, 54 anos, viu a atriz americana Gwyneth Paltrow entrar-lhe pela loja e galeria dentro. A Flores do Cabo, em Colares, teria a honra de figurar no blogue da atriz, juntamente com várias sugestões para quem visitasse Portugal. “Claro que esse episódio ficou na cabeça das pessoas e houve quem viesse cá por causa disso, o que nem sempre significa mais negócio. Por vezes as pessoas vêm apenas matar a curiosidade”, lamenta a empresária. No ano passado, a loja portuense de instrumentos musicais Porto Guitarra recebeu a visita inesperada do ator Ewan McGregor. O escocês começou por se apaixonar por um cavaquinho, mas acabou por também levar uma guitarra portuguesa para casa. Publicar as fotografias da visita de Ewan McGregor nas redes sociais foi irresistível e elas não tardaram a tornar-se virais. Mas em termos de vendas o impacto é muito maior quando um músico profissional vai à loja, explica o proprietário, Agostinho Rodrigues, 45 anos. Como já aconteceu com a guitarrista Gail Ann Dorsey, que tocou com David Bowie, Bryan Ferry ou Lenny Kravitz – também ele um apaixonado pelo Porto.
Ao estilo de Nova Iorque
Habituada à alta-roda do mundo da arte e da moda, Luziah Hennessy sente que existe um “buzz” à volta de Portugal: “Toda a gente do mundo da arte quer estar em Lisboa. É barato e tem espaços fantásticos para os artistas trabalharem”, justifica a mulher de Gilles Hennessy, sócio da LVMH, um conglomerado de marcas de luxo que inclui a Louis Vuitton e a Moët & Chandon. Ao telefone, a bordo de um iate ao largo da Grécia, onde está a passar férias, Luziah Hennessy arrisca dizer que “Lisboa pode ser como Nova Iorque nos anos 1960”. Exagero? “Não”, garante a empresária, referindo os exemplos dos artistas nacionais Joana Vasconcelos e Pedro Cabrita Reis para comprovar o ambiente criativo da cidade. Instalada no Príncipe Real, revela que encontrar casa foi um pesadelo. Nem sempre é fácil satisfazer os clientes que podem (e querem) ter tudo.
Se os ingleses endinheirados preferem o triângulo Vilamoura, Quinta do Lago e Vale do Lobo, os alemães procuram a tranquilidade do campo em zonas como o Carvoeiro. Os franceses e brasileiros querem casas antigas nos bairros históricos de Lisboa. Já o Porto está a tornar-se mais apetecível para os franceses, enquanto o Douro é descoberto pelos brasileiros. O diretor-geral da Sotheby’s, Gustavo Soares, 42 anos, confirma o aumento do interesse por Portugal. “Com a instabilidade no norte de África e no Médio Oriente Portugal começou a ser encarado como mais do que um destino de sol e praia”, contextualiza. Desde o Brexit, Francisco Quintela, da imobiliária Quintela e Penalva, notou um aumento das questões dos britânicos relacionadas com os vistos dourados (que concedem autorização de residência em troca de investimentos). Mas se o cliente do chamado golden visa muitas vezes nem chega a visitar a casa escolhida, quem vem porque quer mudar de vida tem um comportamento mais emocional. Gustavo Soares dá o exemplo do maestro alemão Christoph Poppen, que se apaixonou pela vila alentejana de Marvão, onde criou um festival internacional de música clássica. Também o Douro, onde uma quinta de dois hectares pode custar entre €400 mil e €1 milhão, se presta a paixões milionárias.
Orgulho estrangeiro
Quando a sua empresa de cabos para computadores fechou, o holandês Maarten van Luyt, 51 anos, decidiu fazer um périplo focado nas melhores regiões vinícolas do mundo, não que gostasse particularmente dos prazeres báquicos, mas essa seria a sua próxima área de negócio. Passou pelos EUA, França, Chile, Itália, Austrália, Nova Zelândia e, claro, Portugal. Depois de conhecer a região do Douro, rendeu-se à “família” que lá encontrou. Por enquanto, vende toda a produção da sua marca, a Quinta do Alaúde, no mercado holandês e tem orgulho em dizer que é um produto português. “Era bom que os portugueses fossem mais orgulhosos. Os espanhóis vendem os seus produtos aos gritos, se for preciso”, lamenta o “especialista em Douro”, como gosta de se apresentar. O complexo de inferioridade também aparece no livro de Enrique Pinto-Coelho. “Muitas pessoas referiam-no como um traço nacional, mas não o faziam de forma depreciativa, antes com incompreensão”, sublinha.
Ao clima, praia, comida, hospitalidade… Junta-se outro fator cada vez mais valorizado por quem nos visita ou pensa mudar-se para cá: a segurança. A reputação internacional do País subiu pelo terceiro ano consecutivo em grande medida devido ao “contexto social português”, no qual se inclui a segurança. A conclusão é do Country Reputation Report de 2016, da consultora OnStrategy, no qual Portugal ocupa a 19ª posição.
Luís Araújo recusa a ideia de Portugal “estar na moda” ou, pelo menos, recusa que a moda seja passageira. “Há que manter o nível de qualidade, só assim conseguimos continuar na crista da onda”, alerta. A viver em Portugal há oito anos, Maarten van Luyt tem distanciamento suficiente para sentir o “tremendo aumento” do turismo na região do Douro, contabilizado pelos barcos turísticos que passam no Pinhão. Mas também é tempo bastante para dizer que desde que chegou, “contam-se pelos dedos” os dias em que desejou estar na Holanda. Sem saber, cita o que o mediático Cantona afirmou sobre a vida em Portugal: “Aqui sinto-me vivo”. Quem diria que o país do fado teria uma energia tão feliz.