A pirâmide ou o triângulo com um olho dentro é recorrente em vários graffiti e murais de arte urbana, encontrados sobretudo nas paredes de Lisboa, Porto e Coimbra. O núcleo de Ciências das Religiões, da Universidade Lusófona, anda a investigar este fenómeno recente, recolhendo estas imagens, intrigado, por vezes com o grau de requinte e de elaboração que as simbologias apresentam. Até agora já identificaram cerca de 300 imagens, 70% nas paredes de Lisboa e, em breve, explica Paulo Mendes Pinto, professor de religiões antigas da Lusófona, coordenador daquela área, darão o passo seguinte, que é investigar e tentar contactar com os próprios artistas de rua, para averiguar até que ponto apenas mimetizam ou têm conhecimentos mais amplos.
Se a pirâmide e o olho (ícones maçónicos) simbolizam tradicionalmente a perfeição e a sabedoria, nesta nova recriação da arte urbana parecem representar algo mais inquietante, como o controlo e a vigilância, numa lógica orwelliana.
Desde o século XVIII, explica Paulo Mendes Pinto, que o triângulo representa «o ente divino e o grande arquitecto do universo». Para a Igreja Católica o triângulo também têm um significado divino, dado os três vértices (Espírito Santo). Já o olho, também desde a mesma época, simboliza a sabedoria divina. A maçonaria aproveitou simbologia religiosa transversal e o triângulo com o olho dentro é geralmente associado às lojas maçónicas.
Nos grafitti também aparecem muitos elementos ligados às religiões do Egipto e à iconografia satânica, como o 666 ou as cruzes invertidas. Ou o 33, o número da perfeição, segundo a lógica maçónica.
A questão, continua, Paulo Mendes Pinto, e isto é o que mais intriga os investigadores, alguns destes desenhos já apresentam um grau de narrativa altamente elaborada que supõem um conhecimento superior e de descodificação destas matérias. Até porque, relatam, alguns dos grafitti estão colocados junto a igrejas, como uma provocação, e têm referências à ideia de caos e ordem, ao esquadro e compasso. «Anda aí um grafitter que até sabe grego», conta o professor.
«Trata-se de uma apropriação de simbologias, de recriações, em grande medida, usadas como crítica social. Precisamos de saber como entrou na cultura juvenil todo este diccionário visual, todo este léxico e semântica», observa Paulo Mendes Pinto, que prepara em breve uma conferência sobre o tema.
O professor já questionou membros da maçonaria que também se mostraram bastante intrigados – «ainda não tinham dado por nada». E afirma que tudo pode estar ligado à vaga de best-sellers sobre conspirações, na linha Dan Brown, que contaminaram o imaginário. Mas é ainda apenas uma hipótese de explicação.