Quase todas as semanas, sai um novo estudo acerca dos benefícios ou riscos do café para a saúde – Ainda não há muito tempo, o café foi relacionado com um risco reduzido de ataques cardíacos. Tem sido mostrado que previne a demência, diabetes do tipo 2 e até mesmo cancro da pele. Mas o café também tem sido responsabilizado por ansiedade, azia, e piores menopausas. Uma só chávena pode aumentar a frequência cardíaca para 100 batimentos por minuto. E, em excesso, pode levar a ossos quebradiços e osteoporose. Contudo, segundo especialistas, beber café pode melhorar os seus músculos.
Todos estes efeitos, bons e maus, devem-se, em grande parte, à cafeína encontrada naturalmente nos grãos de café. No entanto, o café também contém uma gama de antioxidantes, bem como substâncias químicas de plantas que dão à bebida a sua amargura, cheiro característico e as propriedades saudáveis.
Então quanto café deve beber para receber os seus benefícios e não sofrer os riscos? “Em moderação, até três chávenas por dia, faz com que o café seja neutro para a sáude, podendo mesmo ter benefícios,” explica o nutricionista Nigel Denby.
Veja como uma chávena diária afeta o seu corpo:
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Cintura
Escolha o seu café com sabedoria e poderá perder peso. Em vez do café com leite, que representa 170 calorias, opte pelo café simples e evite 160 calorias numa bebida. Mas o café pode ajudar de um modo mais direto. “Para além de ser praticamente livre de calorias, o café pode ser um inibidor do apetite leve,” diz Nigel Denby.
Um estudo recente descobriu que o café verde, feito a partir de grãos de café torrados, pode ajudar na perda de peso, reduzindo a quantidade de acúçar absorvido pelo intestino, e acelerar a taxa na qual o corpo queima gordura. Isso deve-se ao ácido clorogénico, um composto no café.
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Coração
Uma chávena de café pode aumentar a frequência cardíaca em 100 batimentos por minuto (que é normalmente entre 60 e 80), efeito que pode prolongar-se até uma hora. Também pode provocar a contração das artérias, o que aumenta a tensão arterial, palavras do Dr. Graham Jackson, cardiologista consultor da Fundação Guy & St Thomas NHS.
Numa pessoa saudável isto não vai causar efeitos nocivos, e até pode mesmo dar-lhe um impulso de energia. Além disso, o consumo moderado de café pode prevenir ataques cardíacos.
Num artigo do jornal Heart, cientistas da Coreia do Sul descobriram que homens e mulheres que bebem quantidades moderadas de café, são menos propensos a ter níveis elevados de cálcio nas suas artérias – indicador precoce de artérias obstruídas – embora as razões não sejam ainda claras.
No entanto, nas pessoas com insuficiência cardíaca – em que o coração não bombeia o sangue de forma eficaz por estar danificado – o café pode colocar o seu coração sob maior pressão. Nesse caso é aconselhado que desista imediatamente do consumo de café. ” As pessoas com doença cardíaca devem evitar o café instantâneo, pois contém níveis elevados de potássio, que podem causar alterações perigosas no ritmo cardíaco,” explica o Dr. Jackson.
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Intestinos
O primeiro café do dia pode desencadear uma necessidade de ir à casa de banho. Isto porque a cafeína estimula e aumenta as contrações no intestino, que empurram os resíduos para fora, mais rapidamente que o normal.
Isto também significa que os nutrientes têm menos tempo para ser absorvidos à medida que passam pelo sistema digestivo, o que pode ser prejudicial se não seguir uma alimentação saudável e equilibrada. A cafeína também interfere com a absorção de ferro, pelo que deve evitar a ingestão de café junto com alimentos ricos em ferro, como as carnes vermelhas.
Contrariamente à crença comum, o café não alivia a prisão de ventre. Embora possa causar espasmos e sentimentos de urgência temporária, não vai curar todos os problemas inerentes aos intestinos. Na verdade, o café a longo prazo pode piorar a obstipação porque a cafeína pode levar à desidratação, resultando em fezes duras, mais difíceis de expelir.
E evite beber café sem comida. A cafeína estimula a produção de suco gástrico no estômago, mesmo que não haja nenhum alimento para ser digerido. “Se beber apenas café, os ácidos gástricos podem irritar a mucosa do estômago e do intestino, provocando dor e inchaço,” diz Iain Jourdan, cirurgião coloretal e consultor geral do Royal Hospital de Surrey, Guildford. “O melhor é beber sempre café enquanto come alguma coisa.”
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Ossos
O excesso de café pode aumentar o risco de ossos quebradiços ou osteoporose, aumentando a perda óssea. A cafeína faz com que os osteoblastos – as células envolvidas na formação de osso novo – se tornem menos eficientes, podendo até matá-los, de acordo com um estudo publicado no Jornal de Cirurgia Ortopédica e Pesquisa em 2006.
“A cafeína também afecta a absorção de cálcio no intestino e acelera a excreção de cálcio, podendo levar à perda óssea,” diz Julia Thomson, enfermeira da Sociedade Nacional britânica de Osteoporose.
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Dentes
Preocupado com as manchas nos dentes, após o café da manhã? Surpreendentemente, o chá pode ser pior. “O chá tem agentes de coloração muito mais poderosos do que a cafeína,” diz Mervyn Druian, dentista e sócio da Tooth London Centre Whitening. “Para os dentes ficarem machados de café, teria de beber cinco a seis chávenas por dia,” diz ele. A coloração do café é muito superficial, afetando apenas o biofilme, camada fina de bactérias que cobre os dentes e as gengivas, e não penetra através do próprio esmalte.
Um bom branqueador pode remover até 90 por cento das manchas em 14 dias. Se o esmalte estiver rachado ou danificado, pode precisar de ajuda profissional.
Druian diz que o café – incluindo o café descafeinado – contém uma substância química que trava a bactéria mutante Streptococcus, responsável por “comer” os nossos dentes.
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Hálito
“Hálito de café” é um termo para o mau hálito particularmente nocivo, associado ao consumo de café. “O café desidrata e quem bebe muito tem tendência a ter a boca seca”, explica Druian. Como resultado, as células da mucosa que reveste o interior da boca, que vivem apenas durante 3 dias, não são expulsas quando morrem. “Em vez disso, mantém-se na boca e começam a libertar gases sulfurosos”, elucida o médico.
Uma solução simples é restringir o consumo de café e comer em porções pequenas, várias vezes ao dia, para estimular a produção de saliva. Beber água com o café também pode ajudar. E a pastilha elástica sem açúcar, depois do café, tem o mesmo efeito, sem muitas calorias.
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Cérebro
O consumo moderado de café pode reduzir o risco da doença de Alzheimer até 20%, de acordo com um estudo do Instituto de Informação Científica sobre o Café, no Reino Unido.
O estudo constatou que as pessoas que bebem de três a cinco chávenas de café por dia tinham 20% menos de probabilidades de desenvolver esta forma de demência. A investigação sugere cafeína ajuda a prevenir a formação de placas e os “emaranhados” de proteína no cérebro, associados à doença de Alzheimer.
A cafeína e os antioxidantes presentes no café podem também reduzir a inflamação do cérebro e retardar a deterioração das células cerebrais, especialmente as associadas à memória.
A maioria dos estudos sugere que o consumo regular de café ao longo da vida “está associado a um risco reduzido de desenvolver a doença de Alzheimer, com um efeito protetor ideal assegurado com 3-5 chávenas de café por dia,” segundo Arfan Ikram, professor do Erasmus Medical Center Rotterdam, que liderou o estudo.
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Rins
O café é um diurético – estimula os rins, fazendo com que precise de ir mais vezes à casa de banho. Isto acontece porque a cafeína interfere com a forma com que o fluido é reabsorvido pelo sangue, diz o professor Chris Eden, urologista consultor no Royal Hospital de Surrey, em Guildford.
“Não se trata necessariamente de algo mau, se o seu sistema renal estiver a funcionar corretamente, mas estudos mostram que o consumo a longo prazo de café pode piorar doenças renais.” A cafeína tem componentes irritantes para a bexiga, o que piora a situação de quem sofra de doenças a esse nível.
O café é rico em oxalatos, compostos que se ligam com o cálcio no sangue, para criar o oxalato de cálcio, um componente principal das pedras nos rins. Segundo um estudo norte- americano realizado em 2004, as pessoas com histórico de pedras nos rins viram aumentar os seus níveis de cálcio na urina, após terem bebido duas chávenas de café por dia.
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Pele
Apesar de ter um efeito desidratante no corpo, o café não seca a pele, esclarece Nick Lowe, dermatologista londrino. “Teria de estar extremamente desidratado para a pele começar a mostrar os efeitos, o que é raro bebendo 3-4 chávenas de café por dia.”
O café pode inclusivamente estar ligado a um menor risco de cancro da pele, graças aos seus antioxidantes, que limpam os radicais livres e as moléculas danosas ligadas ao cancro e a outras doenças. Em 2005 descobriu-se que, quem bebia mais café era menos propenso a melanomas malignos.
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Diabetes do tipo 2
Muitos são os estudos que sugerem que beber muito café está relacionado a um menor risco de diabetes do tipo 2. Uma pesquisa recente, nos EUA, que envolveu 123.000 pessoas concluiu que quem bebia 3-5 chávenas de café por dia, tinham menos risco de desenvolver a doença.
Não está claro que o café possa ajudar. Mas como explica Frank Hu, nutricionista da Escola de Saúde Publica de Havard: “O pensamento atual é que se trata da combinação de antioxidantes e outros nutrientes, no café.”
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Músculos
Beber café pode dar um impulso aos seus músculos e fornecer -lhes mais energia. Pesquisadores do Instituto Australiano do Desporto descobriram que uma só chávena de café ajudou atletas a exercitar durante quase mais um terço do tempo. Foram dados a beber a ciclistas água, café e coca-cola, também fontes de cafeína, e aqueles que beberam café ou cola foram capazes de continuar a pedalar por mais tempo.
A cafeína incita à queima de gordura por parte dos músculos, para a obtenção de energia, quando esgota a energia fornecida pelos hidratos de carbono.
A cafeína também é conhecida por ajudar a abrir as vias respiratórias – é quimicamente semelhante à teofilina, usada no tratamento de asma.
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Mas… Pode fazer com que se sinta mais cansado
O café provoca uma resposta imediata do corpo, aumentando a pressão arterial e a frequência cardíaca, resultando numa explosão de energia. A cafeína também estimula as dopaminas, hormonas responsáveis pela sensação de bem estar, reduzindo temporariamente a fadiga. E tem um efeito rápido – a cafeína é absorvida mais rapidamente na forma líquida, “Atinge uma maior concentração na corrente sanguínea e no cérebro após 30-40 minutos”, explica Nigel. Só após três, seis horas é que os níveis de cafeína voltam a cair para metade. É por isso que o café deve ser evitado nas 4-6 horas anteriores à hora de deitar, aconselha Peter Rogers, professor na Universidade de Bristol.
O café suprime a melatonina, que nos ajuda a relaxar e a preparar o organismo para dormir. Mas não confie na cafeína como como um impulsionador de energia a longo prazo. Estudos têm provado que as pessoas que bebem regularmente café para se manterem despertos, tornam-se tolerantes à cafeína e perdem a capacidade de se manterem alerta, em comparação com quem não bebe café.