Jimmy Thoronka, 21 anos, é o campeão dos 100 metros da Serra Leoa e tido por muitos como um atleta promissor. O presidente da associação de atletismo do país considerava mesmo que tinha o potencial para ser “um dos melhores velocistas do mundo”. Em agosto de 2014, desapareceu, depois de participar nos Jogos da Commonwealth, juntamente com vários outros atletas, e não chegou a voltar ao seu país. Até agora, o seu paradeiro era desconhecido. Ao jornal britânico The Guardian, o jovem contou como tem vivido desde que desapareceu.
Agora a viver como sem-abrigo nas ruas de Londres, o atleta recorda como estava entusiasmado com a possibilidade de competir nos Jogos da Commonwealth. “Pensei que era a minha grande oportunidade”.
Na altura, quando a equipa da Serra Leoa entrou no avião rumo a Glasgow, já estavam confirmados alguns casos de Ébola, mas a epidemia estava longe de atingir as proporções que se seguiram.
“Esperava ganhar uma medalha de olho para o meu país. Mas, durante os Jogos, recebi a notícia terrível da morte do meu tio, provavelmente com Ébola. Não conseguia parar de chorar”. Thoronka manteve-se na competição, mas não chegou a conseguir subir ao pódio.
Thoronka conta o que aconteceu: “Queria ficar em Londres um tempo depois dos Jogos, mas o meu saco com o dinheiro e passaporte foi roubado na estação de Glasgow. Tive medo de ir à polícia, que me prendessem, e então implorei a uma pessoa que me pagassse a passagem para Londres”. Na capital britânica, conseguiu contactar um conhecido, que o acolheu em casa. Foi aí, a ver televisão, que descobriu, nas notícias, que a sua mãe, uma enfermeira, também tinha morrido com Ébola. Mas havia mais: o vírus tinha atingido faltamente toda a sua família mais próxima, incluindo as suas irmãs e irmão.
Pouco depois, o tal conhecido pedia-lhe que saisse de casa. Sete meses depois, o atleta lava a única muda de roupa suplente que tem nas casas de banho públicas e deixa-a secar estendida na relva de um parque. Não trabalha, não recebe subsídios, não tem alojamento. Depende da generosidade de estranhos para comer, mas há dias, diz, que não come nada de todo.
“Acordo às 4h da madrugada e se tiver bilhete para o autocarro apanho o da noite e durmo por lá até de manhã. Conheci um homem que às vezes me deixa dormir na sua casa, mas tenho de esperar que ele chegue a casa às 10h ou 11h da noite e fico com muito frio”, acrescenta.
Ao jornal, afirmou saber das implicações legais de permanecer no Reino Unido depois de o seu visa expirar, mas diz a sua situação é “desesperada”: “Não posso voltar à Serra Leoa porque a minha família toda foi dizimada e não consigo sobreviver sozinho. Já ninguém pratica atletismo agora. O Ébola destruiu tanto. Mas também não posso sobreviver aqui se continuar a viver assim”. “Não sei o que voi fazer”, conclui.