Era uma questão de tempo até que aparecesse o primeiro caso de dengue na Madeira. Desde 2005, altura em que foi detetada, pela primeira vez, a presença do mosquito transmissor da doença, que a ilha andava a ser vigiada pelos especialistas do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
Duzentas e setenta armadilhas, distribuídas pela Madeira e por Porto Santo, e muito trabalho de campo permitiram concluir que o bicharoco terá vindo do Brasil ou da Venezuela e que apresenta “níveis de resistência a alguns inseticidas”, revela Carla Santos, professora de entomologia médica.
A especialista daquele instituto voou terça-feira, 9, de Lisboa para o arquipélago, de forma a estar mais perto dos acontecimentos – os primeiros casos positivos de dengue foram revelados na semana passada. “O objetivo, agora, é estimar a densidade populacional do mosquito e tentar perceber qual o contacto entre ele e as pessoas”, avança. Assim que foi confirmado o primeiro caso de dengue, ficou suspensa uma das técnicas mais usadas para o estudo destes vetores: a exposição das pernas nuas durante a dita hora da melga, para aferir o número de picadas por pessoa.
Eliminar criadouros
“Um surto de dengue tem três vértices: o mosquito, uma população humana suscetível e o agente patogénico que o provoca”, explica Carla Santos. As duas primeiras condições estavam lá desde 2005. Ainda não se sabe como é que a terceira entrou na equação. O mais provável é o mosquito local ter picado uma pessoa infetada. Em alternativa, pode ter chegado à Madeira já com o vírus da dengue nas papilas salivares.
Numa semana, o número de casos subiu às dezenas e a população entrou em pânico, acorrendo às farmácias para comprar repelentes e aos hospitais para descartar possíveis infeções – detetadas através de uma análise laboratorial, feita, numa primeira fase, no Instituto Ricardo Jorge, em Lisboa, mas agora efetuada na Madeira
“Nas casas, o mosquito tem a vida facilitada, porque encontra aquilo de que precisa: alimento e um local para se reproduzir”, nota a entomologista. É por isso que uma das principais mensagens à população tem sido no sentido de controlar o crescimento dos mosquitos, que também são responsáveis pela transmissão da febre amarela. Aos madeirenses, sobretudo da região do Funchal, pede-se que eliminem os criadouros (onde vivem as larvas), como os pratos dos vasos de plantas, os pneus abandonados, as garrafas abertas e expostas à chuva, os baldes com água. Vai-te embora ó melga!