SIGA PARA O ROTEIRO…
- … ROMÂNTICO: Em busca do tempo perdido
- … MEDIEVAL: Em Aljubarrota, com Nuno Álvares Pereira
- … MUÇULMANO: A Cruz e o Crescente
- … ROMANO (Norte): Conímbriga, a pequena Roma
- … ROMANO (Sul): Gladiadores do tempo
- … PALEOLÍTICO: Enigmas na rocha
Se o leitor é daquelas pessoas que sempre sonharam ter acesso a uma máquina de viajar no tempo, fique sabendo que o seu sonho é agora em parte concretizável. Desde Outubro do ano passado, pode deslocar-se com toda a comodidade até ao remoto dia 14 de Agosto de 1385 e a toda a época turbulenta que o precedeu. A data não lhe diz nada? Sim, foi a da batalha de Aljubarrota. E a tal “máquina do tempo” está instalada em S. Jorge, a dois passos da Batalha, junto da antiga estrada Lisboa-Porto, no próprio local onde há quase 624 anos cerca de 6 mil portugueses desbarataram em menos de uma hora um exército castelhano de 40 mil homens e asseguraram, para o bem e para o mal, a independência do País.
A tal “máquina”, iniciativa da Fundação Batalha de Aljubarrota, é, pura e simplesmente, um edifício baptizado de Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota – CIBA para simplificar.
Visitar o CIBA é uma experiência marcante. Há três décadas fora ali construído um museu militar que pouco mais oferecia aos visitantes do que a possibilidade de contemplar uma maqueta do campo de batalha. Ampliado e reformulado no que toca ao conceito, o actual CIBA põe à disposição de quem por lá passa os mais modernos meios informáticos e audiovisuais, desde ecrãs interactivos a um filme de reconstituição histórica verdadeiramente esclarecedor, passando pela possibilidade de percorrer os locais reais onde se travou a batalha e que enquadram a capela de S. Jorge, mandada construir há mais de seis séculos pelo próprio Nuno Álvares Pereira. Dentro do edifício principal foi deixado a descoberto um fosso cavado pelos portugueses na noite de 14 para 15 de Agosto de 1385, já após a debandada castelhana, a fim de defender a posição, como era costume militar da época. Em anexo, um parque de merendas semeado de jogos e artefactos medievais, orgulho do arquitecto João Mareco, director do CIBA.
Ainda que a maioria dos portugueses não esteja especialmente familiarizada com as coisas do passado, quase todos gostamos de ter a explicação da origem das coisas que nos rodeiam. Ora,
uma confusão bastante generalizada é a que se estabeleceu em torno da batalha de Aljubarrota e da perda pontual da independência portuguesa: para a maioria desinformada, o rei que comandava os invasores “era” o contra-reformador e barroco Filipe II de Espanha (I de Portugal), em vez do ainda medieval Juan I de Castela. Garantidamente, o CIBA ajuda a arrumar as ideias, assentando que o advento da dinastia filipina ocorreria apenas 200 anos depois da fulgurante meia hora – ou pouco mais – de Aljubarrota.
Sinfonias de pedra
Escusado será dizer que quem for ao CIBA sem dar um pulo ao Mosteiro da Batalha evidenciará uma distracção sem nome. A magistral sinfonia de pedra mandada compor por D. João I para comemorar a vitória de 14 de Agosto de 1385 deve ser vista com olhos de ver e de sentir. Construído ao longo de quase cem anos, este ponto culminante do gótico português, património mundial, rivaliza com as catedrais francesas em capacidade de nos comover. Muitos o sabem: são em média 350 mil por ano os visitantes munidos de bilhete, e a este número junta mentalmente Júlio Órfão, director do monumento, mais uns bons 150 mil não pagantes, que se limitam a contemplar as naves da igreja e o panteão da dinastia de Aviz. O facto de três quartos serem estrangeiros prova que a Batalha desfruta de uma merecida fama internacional.
E, já agora, neste breve roteiro medieval recomenda-se ainda vivamente um salto ao Convento de Cristo, em Tomar, e outro ao Castelo da Feira, em Santa Maria da Feira. O primeiro, não muito longe da Batalha e de S. Jorge e fundado no século XII por Gualdim Pais, é uma das jóias arquitectónicas dos misteriosos Templários, hoje tão mediáticos.
O segundo, de fundação ainda mais antiga, é uma construção digna de conto de fadas, com torres pontiagudas ao estilo feudal, nesta época estival rodeada pela mais espectacular das feiras medievais que entre nós se realizam.
>> Onde dormir
- Casa da Padeira, Aljubarrota A dois passos dos Mosteiros de Alcobaça e de Aljubarrota, respira-se o ar das serras de Aire e Candeeiros em antigas camas de dossel. Duplo desde €50. Tel. 262 505 240
- Quinta do Valle, Tomar A Casa da Quinta de Sant’Ana Guerreira mantém-se na mesma família desde 1550. Arquitectura característica das casas senhoriais, com ligação à agricultura. Duplos desde €89. Tel. 249 381 165
>> Mais sugestões
Castelo de Guimarães
Tradicionalmente considerado o berço de D. Afonso Henriques, é um dos mais simbólicos ex-líbris medievais portugueses.
Paço dos Duques
(Guimarães) Muito perto do castelo, este edifício do século XV polemicamente reconstruído durante o Estado Novo permite-nos visualizar uma residência nobre
da época.
Domus Municipalis (Bragança) É um monumento civil românico de características únicas
na Península Ibérica
Castelo de Penedono Um dos mais belos do País, nele residiu o célebre “Magriço” do torneio dos Doze de Inglaterra.
Mosteiro de Santa Cruz (Coimbra) Mandado construir por D. Afonso Henriques, alberga o túmulo do fundador
de Portugal.
Castelo de Leiria Apesar de muito intervencionado nos séculos XIX e XX, oferece ainda belos elementos românicos e góticos originais.
Castelo de Óbidos Conquistado aos mouros no século XII, recorta contra o céu um perfil de cortar a respiração
Igrejas góticas de Santarém Não é sem razão que se considera a capital ribatejana também “capital do gótico” em Portugal
Castelo dos Mouros (Sintra) Pela sua integração na paisagem de sonho, também poderíamos integrá-lo no “roteiro Romântico”
Castelo de S. Jorge (Lisboa) Ali, no Paço da Alcáçova, viveu a corte até ao século XVI. Hoje oferece as mais belas vistas de Lisboa.
Mosteiro de Alcobaça Com os túmulos de D. Pedro e Inês de Castro, este imponente edifício da Ordem de Cister foi o primeiro exemplo de gótico construído em solo português.
>> PARA LER
‘Lendas e Narrativas’
Alexandre Herculano
O “pai” da ficção histórica no nosso país e grande historiador do período inicial da nacionalidade transporta-nos, nesta série de pequenas novelas exemplares, ao mundo colorido mas brutal da Idade Média.