“Consenso científico é pedir que haja 100% de certeza e atrevo-me a dizer que isso é impossível, bastando ver os exemplos do aquecimento global, em que há muitas vozes discordantes, ou mesmo das teorias de Darwin, que após 200 anos ainda têm críticos”, refere Daniel Sebastião, investigador do Instituto das Telecomunicações (IT).
A falta de consenso deve-se, entre outros motivos, à dificuldade em “replicar o estudo”, visto que “em ciência, para que um estudo seja considerado válido, tem de ser repetido nas mesmas condições e chegar aos mesmos resultados”, uma tarefa que se tem revelado “difícil”, por existirem diversas condicionantes, afirma Daniel Sebastião.
“É difícil distinguir pessoas expostas e não expostas, porque hoje em dia há contacto com radiações em todo o lado, seja em telemóveis, rádio ou televisão”, exemplificou.
Jorge Costa, do departamento de Ciências e Tecnologias da Informação do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), refere por seu lado que existem dois tipos de estudos científicos – em animais e epidemiológicos -, mas em ambos existem problemas.
“Nos testes realizados em animais coloca-se sempre a questão de o resultado ser ou não compatível com o homem e o tecido humano e nos epidemiológicos a dificuldade é ter uma amostra da população elevada, diversificada e ao longo de um espaço de tempo longo, uma vez que esta questão está relacionada com o efeito da exposição prolongada do corpo humano às ondas electromagnéticas”, disse.
Para Santos Rosa, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (UC), concluir “sobre aquilo que acontece quando estamos sujeitos à radiação ainda é precoce”, porque os dados obtidos em animais de laboratório não são facilmente transponíveis para o ser humano.
A nível epidemiológico, acrescentou, é difícil conseguir uma população que use e outra que não use o telemóvel, a não ser que se compare “um grupo de uma tribo indígena africana que não receba radiação electromagnética com um grupo de uma população de uma grande cidade” sujeita a este tipo de radiação “permanentemente”.
Mesmo assim, “não são grupos comparáveis, porque geneticamente são diferentes, a alimentação não é a mesma e os hábitos de vida são díspares”.