O Chega já não é, somente, os números entre os 6 e os 8% que, no decorrer das últimas duas semanas, a média das sondagens publicadas nos tem indicado. A arruada pelo Chiado, esta sexta-feira, em pleno coração da capital, ponto-alto do encerramento da campanha do partido, confirmou as pistas para o próximo domingo, dia 30: o Chega é feito de pessoas e, com os seus votos, vai crescer nestas Legislativas, seja como terceira, quarta ou quinta força política. O partido de André Ventura vai ter grupo parlamentar de corpo inteiro, na próxima legislatura – e, para o confirmar, bastaria comparar o número de militantes e apoiantes que, há dois anos, seguiam o líder do Chega por estas andanças.
Foram cerca de meio milhar pessoas, que, à hora do lanche, se foram acotovelando à sombra do Camões. Quando André Ventura desceu do carro, empunhando alto a bandeira nacional, a euforia foi total – e o ruído não mais cessou até aos Restauradores. “Portugal! Chega! Ventura!”. Os cânticos dos militantes e apoiantes, um grupo heterogéneo, composto por homens e mulheres, novos e velhos, encheram as artérias lisboetas, perante o olhar curioso de quem passava. O hino nacional cantou-se a plenos pulmões: uma, duas, três vezes…
André Ventura, acompanhado pela sua mulher, ladeado por Rita Matias, Rui Paulo Sousa e Pedro Pessanha, candidatos por Lisboa, cumpriu o seu papel. Acenou, alegre, estancando pontualmente, para falar com quem se aproximava com pedidos para “que mude Portugal”, para posar para as lentes e para dar dois dedos de conversa aos microfones dos jornalistas presentes. A ideia-chave para esta última jornada, não poderia ser outra: o Chega quer superar BE e IL, e ser a terceira força política. “É aí [terceiro lugar] que ficaremos”, garantiu. E a arruada foi apenas “mais uma manifestação de força”, diz.
“Bocas” ao longo do percurso não retiram confiança a militantes e apoiantes: “Vamos mostrar toda a nossa força”
Foram muitos mais, porém, os que desviaram o passo (e o olhar). Pelo caminho, uma militante bem se esforçava (ao máximo) para distribuir os flyers, que anunciavam como, após as eleições, o partido se propõe a fazer “o sistema tremer”. Fora da “bolha” do Chega, porém, poucos foram os que aceitaram o papelinho, ocupado, quase na totalidade, com o rosto de André Ventura. “Não, não”, repetia-se, um sem número de vezes, ficando a diligente apoiante de mão esticada.
Outros, mais afoitos, foram ainda mais longe: “Fascismo, nunca mais!”, gritou um jovem, acompanhado da namorada, à porta d’ A Brasileira. “Cala-te, pá! Vai mas é trabalhar!”, gritou a massa. “Tomem!”, atirou outro, de passagem pelo Rossio, montado numa bicicleta, com uma mão no guiador, e outra bem no ar, de dedo médio esticado. “Buuuuh!”, apupou a massa.
No final da arruada, o molho de papéis permanecia nas mãos da apoiante. Nada, porém, que apagasse os sorrisos dos rostos, ou a deixasse sem palavras para o animado diálogo que, terminada a festa, entabulou com a atriz Maria Vieira, deputada municipal em Cascais, e nona na lista candidata nestas Legislativas ao círculo por Lisboa.
“Podem falar mal de nós, mas Chega veio para ficar. E, no próximo domingo, vamos mostrar ao País toda a nossa força”, gritava uma mulher, já meio rouca, num megafone do tamanho de um brinquedo – naquele meio milhar, André Ventura tem, sem dúvida, algus dos seus (mais) fiéis seguidores.