“Eu voto sempre no PSD, desde o tempo de Sá Carneiro, e é muito difícil mudar. Não lhe estou a dar graxa!, mas gosto muito de a ouvir falar. É simpática, sabe comunicar… Admiro a sua frontalidade! Dou-lhe os parabéns. Não voto em si, mas gostava de a ver num Governo do PSD. O caminho é que não pode ser só proibir [as touradas]”. Joaquim Tomás Henriques, 72 anos, feirante no Mercado de Periscoxe, em Santa Iria da Azóia, Loures, não tem experiência política, mas é um cidadão atento – e, em menos de 20 segundos, deu mais pistas sobre eventuais acordos pós-eleitorais entre PAN e PSD do que os próprios líderes partidários (Inês Sousa Real e Rui Rio) fizeram na primeira semana de campanha.
O homem que “andou com Sá Carneiro” e é “amigo de Jerónimo de Sousa” – residente naquela terra – está preocupado com a “situação do País”. “A classe média vai aos centro comerciais, mas é aqui que estão os pobres. Nós somos o supermercado dos pobres”, afirmou Joaquim – Inês Sousa Real, sempre atenta, concordou com tudo.
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Seguiu-se, então, na sequência deste diálogo, como nos dias anteriores, o esclarecimento da candidata aos jornalistas, sobre a questão que, indubitavelmente, tem marcado a campanha do PAN: sobre compromissos e “linhas vermelhas”… à esquerda e à direita. Mas, como nos dias anteriores, Inês Sousa Real voltou a desconversar: nem sim, nem não, mantendo assim o tabu. “O PAN está claramente comprometido, mas é com as suas causas, com o País e com os portugueses”. “Linhas vermelhas?”. “Existem”, diz a líder do PAN. Mas, quem sabe?, se não haverá no Parlamento bases para conversar: “Só faz sentido estar na oposição” quando a “oposição é construtiva”, sublinhou.
“Não nos podemos esquecer que, no dia 30 de janeiro, as eleições são para eleger deputados para a Assembleia da República. Quando há um diálogo temos sempre de ter sempre em conta a nossa componente identitária. É evidente que o PAN não vai apoiar um Governo que queira promover a tauromaquia no nosso País. E o PAN nunca disse que estaria disponível para integrar um Governo que viole os seus princípios. Outra coisa, é fazermos uma oposição construtiva no Parlamento. E acho que podemos fazer toda a diferença mesmo estando na oposição”, afirmou.
Resumindo: Governo com PSD não. Com PS, talvez. O resto, a nível parlamentar, o futuro dirá.
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Campanha vegetariana… ignora banca dos enchidos
“Estava a ouvir a sua voz e pareceu-me ser mesmo a menina que costuma aparecer na televisão”, disse uma idosa, carregada pelo carrinho das compras. No mercado, acompanhada por uma dezena de apoiantes, munidos de bandeiras do partido, Inês Sousa Real esforçou-se para distribuir flyers, saquinhos do partido e ainda a proposta de uma receita vegetariana, mas a azáfama de comerciantes e clientes nem sempre deu espaço para grandes conversas – a porta-voz do PAN insistiu na sugestão: “Leia as nossas propostas”, afirmava, enquanto apontava para o papel. “Obrigado, obrigado. Boa sorte”, ouvia-se. E a comitiva seguia para a próxima banca.
“Não quero, não quero… Se ficar com isso deito para o lixo”, dizia um feirante, rejeitando o papel. “Só prometem. Depois, chegam lá e nada…”, insistia ainda outro. Por aquelas bandas, há vidas que não estão para campanhas…
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Mesmo pouco expansiva, Inês Sousa Real cumpriu o seu papel, tentanto chegar a todos. A todos? Ou melhor, a quase todos: as bancas dos enchidos e do peixe foram “esquecidas”.
“Olha, vêm aí as televisões”, dizia, entusiasmada, uma das peixeiras, com a aproximação do grupo. A comitiva passou, porém, sem sequer desviar o olhar… Pelos vistos, Inês Sousa Real não tinha receitas para aqueles ingredientes.