O Ergue-te (ex-PNR) caiu com estrondo com a chegada do Chega à vida política nacional. Em 2015, o partido presidido por José Pinto-Coelho obteve 27 mil votos – um recorde para esta formação política –, mas, em 2022, este partido de extrema-direita não foi além dos… 5 mil.
Em entrevista à VISÃO, José Pinto-Coelho sublinha a ideia de “coerência” associada ao partido. Assegura que “muitas pessoas” preferem o Ergue-te, mas acabam por colocar a cruz no boletim de voto noutros partidos. “Temos uma margem extraordinária para crescer. Agora, o Ergue-te não vai, de maneira nenhuma, fazer ziguezagues para ir ao encontro destas pessoas.”, afirma.
Com uma agenda nacionalista, tradicionalista, anti-imigração, anti-aborto e anti-eutanásia, o Ergue-te tenta aproveitar a prestação de José Pinto-Coelho, no debate da RTP1, em que este chamou “Ponte Salazar” à Ponte 25 de Abril, episódio que viralizou nas redes sociais – “valeu por vários outdoors. Nunca imaginei”, diz o presidente do Ergue-te.
José Pinto-Coelho destaca, habitualmente, a “coerência” do Ergue-te. Apesar disso, o partido tem tido cada vez menos votos – foram apenas 5 mil em 2022. Como é que isto se explica?
Desde que me tornei presidente do partido, em 2005, ou seja, ao longo de quase 19 anos, o Ergue-te nunca fez ziguezagues ou piruetas políticas, nunca fez de catavento… O partido não está interessado em fazer cedências, apenas para ir buscar alguns votos. O que queremos, pelo contrário, é que as pessoas comecem a abrir os olhos e que haja uma mudança de mentalidades. Sabemos que isso é extremamente difícil, num contexto de desigualdade de oportunidades, e quando as pessoas se sentem atraídas pelo número. Efetivamente, o Ergue-te vinha crescendo, paulatinamente, até 2015. Antevíamos, sentia-se, que íamos continar a crescer, mas, de repente, apareceu um partido, com uma figura [André Ventura] que já estava lançada, graças aos comentários sobre futebol na CMTV… Apareceu utilizando algumas das nossas bandeiras e isso acabou por iludir parte do eleitorado…
O Chega é, então, o principal motivo para essa perda de votos?
Explico essa perda com dois motivos. Pela ilusão criada por esse partido, mas também pela mentalidade que existe em Portugal, que, infelizmente, sempre existiu e continua a existir, e favorece o chamado voto útil ou voto estratégico. Não me canso de dizer isto: deparo-me a toda a hora, no meu quotidiano, com pessoas que me dizem preferir o Ergue-te, que concordam mais connosco, mas que, com muita pena, votam noutro partido, porque, dizem, “vocês não têm hipóteses”. No dia em que as pessoas mudarem de mentalidade, nós vamos crescer… Temos uma margem extraordinária para crescer. Agora, o Ergue-te não vai, de maneira nenhuma, fazer ziguezagues para ir ao encontro destas pessoas.
Parece conformado com um eventual mau resultado no dia 10 de março…
A mim só me interessa uma coisa: ser eleito para a Assembleia da República. Agora, se não for, ter 5 mil, 10 mil ou 27 mil, em termos objetivos, é exatamente a mesma coisa. Em termos anímicos, não é, reconheço – é diferente ter 27 mil ou 5 mil votos, claro. Mas, em termos objetivos, é exatamente a mesma coisa.
Todas as sondagens apontam para um crescimento do Chega nestas eleições. Podemos concluir que o objetivo imediato do Ergue-te passa, apenas, por sobreviver perante um partido que se situa no mesmo espectro político?
O Chega não é do mesmo espectro político do Ergue-te. O Ergue-te é de extrema-direita, e digo-o com orgulho, o Chega é de extremo-oportunismo. Portanto, não tem nenhum aspecto que seja próximo… As pessoas gostam é de se iludir… O Chega utiliza, evidentemente, algumas das nossas bandeiras, mas fica sempre a meio caminho, com um pé em cada tabuleiro, a querer agradar a gregos e a troianos, nunca vai ao fundo das questões, pois não acredita nas coisas, não tem coerência, não tem convicções… O próprio líder [André Ventura] é, no fundo, um social-democrata. Mas “cavalga” muitíssimo bem a onda, porque é muito esperto, apesar de não ter nenhuma convicção.
No debate na RTP1, sublinhou que o Ergue-te é o antigo PNR [Partido Nacional Renovador]. Acha que as pessoas ainda se confundem? Essa mudança de nome prejudicou o partido?
Já tínhamos essa ideia de mudar o nome do partido desde 2018, por várias circunstâncias. Fomos adiando essa decisão e acabámos por fazê-lo em 2020. A ideia era dar uma designação mais moderna ao partido, desvinculando o Ergue-te daquela ideia já muito antiga, com siglas… É evidente que há um risco, mas calculado. Estou convencido que, no imediato, esta mudança pode ter trazido algum prejuízo ao partido. Tenho o eco de uma ou outra pessoa que, de facto, me disse não ter visto o PNR no boletim de voto e, então, acabou por votar noutro partido qualquer… Também não temos a visibilidade que nos permitiria esclarecer as pessoas. Pode, de facto, ter-nos prejudicado, mas trata-se de uma estratégia a longo prazo.
Ainda no debate televisivo, a sua intervenção ao chamar a Ponte 25 de Abril de Ponte Salazar tornou-se viral nas redes sociais. Foi um momento importante?
Muito importante. Se calhar, valeu mais do que vários outdoors. Prova, sobretudo, que as atitudes dão frutos (bons ou maus). A nossa marca é a da coerência e a da coragem. Nunca embarcámos em discursos politicamente corretos, não temos medo. Há pessoas que ficam receosas, mesmo que não concordem com a mudança do nome da ponte: dizem Ponte sobre o Tejo, enfim, para não chocar… Eu nunca na minha vida mudei. Somos resistentes, combatentes e não aceitamos as novas engenharias sociais. Sabia que chamar à ponte Ponte Salazar iria ter impacto, mas nunca imaginei que fosse tanto. Foi uma forma de passar a mensagem, e isso é muito importante.
Que ideias do Ergue-te quer destacar nesta campanha?
O Ergue-te tem uma agenda pró-pátria, pró-vida, e pró-família. São ideias inegociáveis. As nossas bandeiras giram em torno disso e, neste momento, erguem-se contra aquilo que achamos serem as agressões ao que defendemos. O que está em cima da mesa, em primeiro lugar, é combater a invasão de imigrantes, a substituição populacional no nosso País, que é uma evidência… Temos de reverter os fluxos migratórios, e aceitar no nosso País apenas pessoas que façam parte da nossa matriz cultural. Não faz sentido estarmos a importar dezenas de milhares de indostânicos. Combatemos o multiculturalismo, porque é algo que apenas gera tensão social. Aí sim, nasce o racismo primário, sem razão de existir.
Já falámos sobre os objetivos, mas acredita ser possível chegar à Assembleia da República?
É essa a meta. Se me pergunta assim, é difícil, claro. Não temos as mesmas oportunidades do voto útil… Mas não faço futurologia, quem sabe? E se, no dia 10 de março, as pessoas acordam e decidem votar Ergue-te?