Quando o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, suspendeu a indigitação de Vítor Fernandes, após o nome do gestor ter sido implicado no processo que levou à detenção de Luís Filipe Vieira, e de outros três arguidos, a deputada do BE, Mariana Mortágua, admitiu que não havia outra solução para o Governo. Mas não deixa de apontar a estupefação com a escolha do gestor, em fevereiro, tendo em conta que o PS – na Comissão Parlamentar de Inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) – já havia levantado dúvidas sobre a idoneidade de Fernandes.
“Se o Governo tivesse sido afirmativo desde logo o início não tinha chamado Vítor Fernandes, que era um homem que estava envolvido nos créditos da Caixa e no Novo Banco”, disse Mortágua, esta quarta-feira, no Irrevogável, o programa de entrevistas da revista VISÃO.
“Surpreendeu-me quando ouvi pela primeira vez, em fevereiro desde ano, o nome de Vítor Fernandes para o Banco de Fomento porque me lembrava que na Comissão da Caixa foi o próprio PS que procurou introduzir conclusões no relatório da Caixa, fazendo uma ligação entre Vítor Fernandes e os créditos problemáticos na Caixa Geral de Depósitos”, explicou, sublinhando que, depois, questionado, o ministro das Finanças disse que Vítor Fernandes tinha um currículo muito relevante”.
“Mas, às vezes, entre um currículo e o cadastro vão pequenas diferenças. Se o Governo se queria proteger desde o início – ainda mais sabendo das ligações do PS quer ao caso BES, quer à gestão passada da CGD – nunca deveria ter nomeado Vítor Fernandes. Era uma questão de precaução face ao passado do administrador”, alegou a bloquista.
A uma semana de serem conhecidas as conclusões dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao Novo Banco, Mariana Mortágua assumiu que duas questões de fundo ficam por esclarecer: a responsabilidade de quem atribuiu créditos problemáticos e o que conduziu à queda do Banco Espírito Santo Angola (BESA), impactando as contas da casa-mãe, em Portugal.
Para a deputada, “é obvio que é preciso apurar ainda muitas responsabilidades na decisão destes créditos”. “Mas também compreendo que as atenções estejam centradas sobre os grandes decisores, os grandes administradores e não sobre a cadeia hierárquica. Porque, depois, vamos verificar que, não havendo controlo nem mecanismos, de facto, é aos grandes administradores que vai parar a grande decisão”, disse.
Já em relação ao BESA foi clara: “Não sei se saberemos alguma vez o que aconteceu ao BESA, porque foi protegido pelo regime e pela cleptocracia angolana. A tal garantia que da lista de créditos que foram garantidos? Nunca ninguém viu esse anexo. A elite de angola, o Banco de Angola e Governo angolano eram as três partes do mesmo poder, que estava a saquear Angola, e que usava o regime financeiro português para levar a cabo esse saque”, defendeu.
“Temos aqui um período de negócios, quer de portugueses em Angola, quer de angolanos em Portugal, que não foi escrutinado porque dava a ganhar dinheiro a muita gente. O BESA servia em Angola, como o BES em Portugal: dar dinheiro e favorecer um conjunto de interesses económicos e políticos, que retornavam para Ricardo Salgado [antigo presidente do Grupo Espírito Santos] na forma de favores. Sabemos que Álvaro Sobrinho [antigo presidente do BESA] geriu esse banco durante um conjunto de anos e que foram dados créditos sem retorno”, concluiu.
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