De acordo com a Associação Nacional de Sargentos (ANS), “há grande dificuldade em se dizer que se está perante uma grande reforma” das Forças Armadas (FA), a ter em conta o pacote de medidas do Governo que prevê uma alteração dos poderes e competências do Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) e dos chefes de Estado-Maior do Exército, Força Aérea e Marinha.
“Isto é como estarmos preocupados com um edifício, que tem os alicerces em muito mau estado e as paredes, muito degradadas, e anda tudo muito preocupado com o telhado”, disse António Lima Coelho, presidente da ANS, no Irrevogável, programa de entrevistas da VISÃO, que mostra preocupação com a concentração dos poderes do CENGFA, Almirante Silva Ribeiro, face aos comandos dos três ramos das FA. “Uma mudança na estrutura superior vai ter reflexos em toda a estrutura. Qual será o reflexo no resto da estrutura?”, questionou, um dia após o Parlamento ter discutido tal reforma e ainda uma proposta do PCP, que prevê o reforço do associativismo militar.
Segundo Lima Coelho, “os problemas das Forças Armadas não estão nas chefias. Não é por haver aquele ou aquele outro general ou almirante que os problemas existem. Os problemas das Forças Armadas estão há muito anos naquilo que ninguém quer, de facto, evitar e combater”.
“Pergunto me se essa mudança vai trazer a tal dinâmica. Tenho dúvidas. Porque se os problemas que sentimos – a começar pelas promoções… Estamos a ver os nossos chefes a incumprir a lei que determina que até 15 de dezembro devem ser publicadas as listas de promoção do ano anterior àquele ano que dizem respeito – isto não está a acontecer, havendo vários chefes. E centralizando todos estes serviços num único as coisas passam a funcionar melhor?”, apontou.
Por isso, sinaliza: “É isto que o militares que estão na base não percebem – porque é que andam preocupados com problemas no topo quando as dificuldades que sentem no terrenos e nas bases? Não acreditamos que estas mudanças no topo vão, objectivamente, alterar ou melhorar os problemas que vão existindo na base”.
Já sobre os poderes do futuro CEMGFA, Lima Coelho defendeu que “quem é escolhido desta forma [pelo podes político] dificilmente terá condições para dizer não”. “Quem é escolhido diretamente por quem governa tem muito mais dificuldade em dizer não a quem o escolhe dessa forma”, concluiu, elogiando a proposta comunista sobre “o reconhecimento do associativismo sócio-profissional mais efetivo”.
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