Já passava das duas horas da manhã desta segunda-feira quando Fernando Medina decidiu assumir a derrota que estava a ser ventilada em surdina entre os socialistas concentrados no Páteo da Galé, há pelo menos uma hora e meia, que comparavam este desfecho ao passado em 2001, quando João Soares perdeu a Câmara para Santana Lopes também numa ida às urnas em que se recandidatava.
O autarca, que liderava a coligação do PS com o Livre e a quem António Costa tinha entregado a autarquia em março de 2015 na senda das eleições primárias no partido, revelou a “vitória indiscutível” de Carlos Moedas e garantiu que não perdeu as eleições por falta de comparência do partido, antes pelo contrário.
Lembrou ainda que o executivo municipal vai ter uma maioria de esquerda, perante uma magra vitória da direita .
“A derrota de hoje é pessoal e intransmissível. O PS fez tudo e o possível para termos os meios e os recursos para fazer diferente”, assegurou, com Costa na primeira fila, onde também se contava a sua mulher e o líder da federação do PS/Lisboa, Duarte Cordeiro.
Medina começou por reconhecer o feito de Moedas, mesmo quando as várias sondagens davam vitórias confortáveis aos socialistas. Agora, disse, é hora da transição de poder – tendo garantido que os dossiês mais importantes serão entregues sem engulhos ao seu sucessor, sobre quem frisou não ter a maioria de vereadores.
A coligação de direita conquistou sete lugares, o PS o mesmo número, a CDU elegeu dois vereadores e o BE um. Medina traduziu esse cenário: “Uma maioria à esquerda”, mesmo que Moedas tenha ganho. Aquela mesma esquerda que terá tentado unir há alguns meses, mas que decidiu ir a votos separada.
A derrota surpreendente desta noite também o impediu de conseguir vislumbrar para já qual o horizonte político dentro do PS, já que era (até agora) olhado como um candidato à sucessão de António Costa.
Na verdade, o breve discurso de adeus do autarca teve mais ou menos a mesma toada, do início ao fim. Antes de se atirar aos braços de Costa, com um rosto marcado por uma emoção presa, Medina ainda fez questão de frisar o “lamento pessoal” por não ter repetido a vitória de 2017. “Gostava de ter conquistado de novo a confiança da cidade”, disse, não revelando se ficará como vereador.