Luís Montenegro saiu do Conselho de Ministros, no Mercado do Bolhão, no Porto, como se fosse uma arruada de campanha. No dia em que Pedro Duarte anunciou a candidatura autárquica ao Porto num artigo no JN, o ministro estava mesmo atrás do primeiro-ministro, com o atual presidente da Câmara, Rui Moreira, ao lado, passando pelas bancas do irónico mercado, ponto obrigatório de qualquer campanha.
Um dia antes da efusiva receção a que Montenegro teve direito, começaram a circular por SMS e Whatsapp mensagens enviadas pela distrital e pela concelhia do PSD Porto, para anunciar a presença do líder do partido.
“Caro(a) militante, informa-se que amanhã, dia 2 de abril, o primeiro-ministro Luís Montenegro estará na cidade do Porto, numa reunião do Conselho de Ministros que assinalará um ano de governação. O primeiro-ministro chegará ao Mercado do Bolhão pelas 10h20 e sairá pelas 12h30. Todos estão convidados a ir cumprimentar o nosso presidente”, lê-se numa mensagem partilhada pela concelhia do Porto.
“Um ano de Governo: amanhã, 2 de abril, 10h20: Luís Montenegro no Mercado do Bolhão”, avisou a distrital noutra mensagem enviada aos militantes a que a VISÃO teve acesso.
A convocatória foi alvo de críticas por parte do líder da Federação do PS Porto, Nuno Araújo, que fez circular entre militantes socialistas uma mensagem de desagrado, que foi também enviada às redações.
“Hoje, num ato propagandístico chocante, pago por todos os portugueses, o Governo decidiu passear-se no Mercado do Bolhão, no Porto, apresentando um ‘balanço’ que mais não é do que uma ação de campanha eleitoral para a qual o PSD enviou uma mensagem a apelar à presença dos seus militantes para ‘cumprimentar o seu Presidente’ em horários específicos”, lê-se na nota enviada à comunicação social.
Socialistas contestam silêncio do PR sobre Governo em campanha
Luís Montenegro já tinha sido criticado nas redes sociais pelo deputado do PS Filipe Neto Brandão por inaugurar unidades de saúde com o Governo em gestão, fazendo eco de uma crítica publicada no blog Causa Nostra pelo Constitucionalista Vital Moreira pela falta de intervenção do Presidente da República face a iniciativas que extravasam as que são próprias de um executivo que já não está em plenitude de funções.
“A que título, pois, um Primeiro-ministro de um Governo [em gestão] que está limitado constitucionalmente apenas “à prática dos actos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos” (artigo 186, 5 da CRP) – e que, para mais, já se anunciou como candidato a deputado pelo círculo em causa – se permite proceder à “inauguração” de equipamentos públicos já em pleno funcionamento?”; escreveu Neto Brandão a propósito da “inauguração de três USF do concelho de Santa Maria da Feira”, no distrito de Aveiro”, que estava na agenda do primeiro-ministro esta semana.
“Ora, sucede que todas essas USFs têm há muito as suas portas abertas e estão, consabidamente, em pleno funcionamento”, frisa o socialista, lembrando que “é a Constituição que expressamente limita a esses actos aqueles que um Governo demitido – é o caso – pode praticar”.
“Cabe, pois, perguntar ao PR Marcelo Rebelo de Sousa se vai continuar a assistir silencioso a esse manifesto e reiterado abuso do Governo…”, conclui.