A Madeira está a arder há uma semana. Luís Albuquerque está debaixo de fogo da oposição por continuar de férias no Porto Santo e o PS já pede uma Comissão de Inquérito para perceber o que correu mal. No Ministério da Administração Interna, em Lisboa, diz-se que ainda é cedo para avaliar falhas. Mas já se prometem reforços dos meios aéreos. Afinal, o que é que está a acontecer?
Esta segunda-feira, já tinham ardido mais de 7 mil hectares na ilha, naquela que é a maior área ardida nesta região autónoma desde 2010 – ou seja, mais do que nos recordes que foram batidos nos grandes incêndios de 2012 e de 2016.
Mão criminosa? A investigação está em curso
Com várias frentes a lavrar na última semana, o presidente do Governo Regional Miguel Albuquerque não hesitou em afirmar, mesmo sem apresentar provas, que os incêndios têm mão criminosa. “Não tenho dúvida de que se tratou de fogo-posto”, disse no domingo numa conferência de imprensa.
Segundo fonte da PJ à Agência Lusa, a origem dos fogos que obrigaram pelo menos 160 pessoas a serem retiradas das suas casas por motivos de segurança está a ser investigada desde que deflagrou o primeiro foco de incêndio na passada quarta-feira nas serras da Ribeira Brava. “Estamos a investigar e desde o início, em que fomos para o local”, informou a Polícia Judiciária, explicando que o Departamento de Investigação Criminal da Madeira “está a desenvolver as diligências de investigação que são normais neste tipo de situações”.
Albuquerque atira a Montenegro
Sob fogo das oposições na Madeira, Miguel Albuquerque não hesitou também em atirar ao Governo de Luís Montenegro. “A Madeira e os Açores, neste momento, no quadro da lei das finanças regionais, são um ótimo negócio do Estado. O Estado diz que a Madeira e os Açores fazem parte integrante da nação e do Estado português, mas cada vez gasta menos dinheiro, portanto é um bom negócio”, disse o social-democrata e acusou o Estado de “não assumir responsabilidades”.
“O que eu proponho é que o Estado ponha na região dois meios aéreos e assuma os custos desses meios aéreos na defesa do território contra incêndios ou outras calamidades para defender também os madeirenses, que são portugueses que estão no Atlântico”, defendeu o presidente do Governo Regional.
MAI evita polémica com Albuquerque
Margarida Blasco, ministra da Administração Interna, evita, porém, entrar em polémicas, prometendo um reforço de meios, que estará a ser avaliado e que pode incluir o envio de um novo helicóptero.
O que é que correu mal? “Não posso responder agora, porque primeiro temos de ajudar aquelas pessoas”, disse a ministra esta terça-feira aos jornalistas, defendendo ser necessário esperar pelo rescaldo para apurar responsabilidades e evitando entrar em choque com Miguel Albuquerque, mas assegurando que a resposta de Lisboa foi pronta.
“Os reforços foram quando foi possível irem, quando foi necessário responderem ao aumento dos fogos. Sei que foi pedido e foi concedido de imediato esse contingente”, afirmou Margarida Blasco.
Os “abutres políticos”, a comissão de inquérito e o pedido de demissão
Albuquerque também não deixou de disparar sobre as oposições. “Há um conjunto de abutres políticos que se querem aproveitar destas situações para tirar dividendos”, criticou, atirando aos “treinadores de bancada que nunca estiveram no fogo, não sabem como é que se combate o fogo”.
O PS Madeira, pela voz de Paulo Cafofo, já veio pedir uma comissão de inquérito para apurar responsabilidades. Para Cafofo, a atuação do Governo Regional é “irresponsável” e “negligente”.
Élvio Sousa, do Juntos pelo Povo (JPP), criticou a forma como Albuquerque se manteve de férias no Porto Santo enquanto os incêndios continuam ativos na Ilha da Madeira. Mas considera as comissões de inquérito “uma perda de tempo”, preferindo apresentar um requerimento à Assembleia Legislativa Regional, para ouvir “com carácter de urgência” Miguel Albuquerque e Pedro Ramos, secretário regional da Saúde e Proteção Civil.
Já pelo Chega, falou o seu líder nacional. André Ventura acha que os fogos são motivo para Albuquerque se demitir. “É uma situação preocupante e é preciso apontar responsáveis, e os responsáveis infelizmente estão no Governo Regional, que parece ter olhado para o lado mais uma vez em relação ao pedido de ajuda, em relação à prevenção e em relação aos meios”, declarou numa conferência de imprensa em Lisboa, na qual não hesitou em dramatizar a situação e em atacar o Governo Regional que ajudou a viabilizar.
“Apesar de os dados não serem ainda 100% certos, tudo indica que houve negligência da parte do Governo Regional na solicitação e na aceitação de apoios por parte da República de combate aos fogos e agora é a tragédia a que estamos a assistir”, disse Ventura.
No entretanto, a noite desta terça-feira, 20 de agosto, adivinha-se novamente difícil com o vento a trocar as voltas às forças de combate. Na zona do Curral das Freiras, no concelho de Câmara de Lobos, as chamas passaram para uma área inacessível e dirigem-se para a encosta do Pico Ruivo, aproximando-se do aglomerado populacional da Fajã dos Cardos. O ponto de situação foi feito pelo presidente da Proteção Civil da Madeira, António Nunes, em declarações à Renascença. A questão que o “preocupa significativamente” é a do Curral das Freiras, acrescentou na mesma ocasião.
“Transpôs o cume para a zona da Boa Ventura, e é uma zona inacessível a qualquer dos meios que nós tenhamos, quer apeados, quer motorizados para qualquer intervenção. Por isso é uma situação que nos preocupa significativamente”, afirmou ainda ao mesmo orgão de comunicação social.
Ao longo desta terça-feira, as várias fontes das autoridades madeirenses escusaram-se a responder taxativamente sobre a necessidade de reforço de meios aéreos, recordando que terão de chegar à ilha por meios aéreos, e lembrando que essa decisão é sempre tomada no Continente.
Muitos dos habitantes das zonas mais afetadas têm repetido aos jornalistas que só abandonarão as suas casas se forem obrigados. “Estamos habituados”, referia uma das moradoras à RTP esta tarde.