A declaração de Marcelo Rebelo de Sousa foi curta, mas esclarecedora. O Presidente da República não entrou em pormenores sobre a crise política que, nas 24 horas anteriores, fez agitar as “águas” no seio do Governo – optando por nunca referir o passo em falso dado pelo ministro Pedro Nuno Santos (e já assumido pelo próprio).
Mesmo fazendo fé nas palavras de António Costa, de que uma “pedra” está já colocada sobre o assunto, sem necessidade de mais consequências políticas – leia-se, a possível (ou até provável) demissão do ministro –, o Presidente da República, porém, não deixou de recordar que, a partir deste momento, continua a pertencer ao Governo, na figura do seu primeiro-ministro, mandatado pelo voto maioritário dos portugueses, a “missão” de se encontrar uma solução para o novo aeroporto da região de Lisboa.
O voto de confiança, entendido, neste contexto, como sinal de mais responsabilidade. Se dúvidas (ainda) houvessem, Marcelo dissipou-as: está tudo nas “mãos” de António Costa; incluindo a escolha pelas pessoas que o primeiro-ministro considera serem as melhores para estarem ao seu lado neste processo.
Sem comentar as opções de localização para o novo aeroporto, Marcelo Rebelo de Sousa definiu, apenas, três “condições exigidas pelos portugueses” para o futuro imediato deste dossier: que a solução seja “rápida”, “consensual” [entre partidos] e “consistente” ao nível do direito, política, técnica e economicamente.
Recorde-se que o despacho que previa a opção por Alcochete e Montijo (como aeroporto complementar), publicado, ontem, em Diário da República, por ordem de Pedro Nuno Santos, terá “apanhado o primeiro-ministro de surpresa”, que ficou “furioso” com o ministro, uma vez que a decisão final “não estava validada pelo Conselho de Ministro e muito menos tinha ‘luz verde’ de António Costa” para avançar e ser anunciada.
António Costa estaria ao corrente da solução apresentada no documento, mas a mesma nunca poderia avançar sem que fosse apresentada à oposição – condição que o primeiro-ministro não abdica neste processo. Na manhã desta quinta-feira, António Costa revogou o diploma.